domingo, 14 de outubro de 2012

Reinos Modernos (parte VI)

Ok, segue o 6º capítulo de reinos modernos. Não tenho muito mais a declarar  (E eu sei que vocês gostam dos meus comentários pré-capítulo. Vamos, admitam!).

Ah, eis uma pequena informação interessante extra: A maioria dos seres sobrenaturais que aparecem (e aparecerão) não são de minha criação (ou autoria). Eles são frutos de lendas urbanas que encontrei pela Net. Pesquisei elas no intuito de conseguir material para o escrito e... Elas realmente me assustaram! yup, e bastou apenas isso para incluí-las de maneira adequada no enredo. (Para os corajosos ou estúpidos que estiverem interessados nas fontes originais, pesquisem no google: Creepy Pasta [Warning: Esses troços me assustaram... Muito... Muito MESMO... Então, é, eu não recomendaria fuçar muito dentro do assunto...]. E nesse capítulo haverá uma breve aparição da Creepy Pasta mais famosa ultimamente... Dica: "Não olhem para trás").

Mais uma vez, peço perdão pelos agravadores erros gramaticais/Sintáticos... Seriously, acho que todo bem/maldito capítulo eu vou me desculpar por esses erros... Então... Better get used to it.

Sem mais delongas... É com orgulho (ou não) que lhes apresento:

Capítulo 6


O dia raiou ainda nublado. Um leve chuviscar cobria as casas e ruas. Anthony olhou pela janela do armário de vassouras, que chamava carinhosamente de escritório, durante algum tempo. Pessoas andavam de um lado para o outro, transitavam com seus guarda-chuvas e casacos, compravam as edições ainda secas do jornal do dia na banquinha que ficava próxima.
Eram essas pequenas coisinhas do cotidiano que mantinham o senhor Morty na ativa. Eram elas o gás e a gasolina de suas ações. “Pax eterna” penou ele suavemente “alguém tem que mantê-la...”.
Então consultou rapidamente seu relógio de pulso e virou-se para dentro do gabinete. A luz acinzentada do dia iluminava perfeitamente a escrivaninha de mogno, as poltronas e estantes abarrotadas de livros e pastas. Não era o ambiente de trabalho perfeito, mas era funcional e trazia todo o conforto que aqueles ossos velhos e seu dono precisavam para suportar cada interminável dia.
Ao olhar os arquivos jogados sobre a escrivaninha por ele mesmo mais cedo, seu rosto se contraiu numa expressão pesarosa. Memórias do telefonema que recebera vieram a sua mente e ele suspirou.
Não tivemos nem tempo de nos recuperarmos da sua ida, que seu legado já entrou em cena para nos assombrar... E eu já devia ter conhecimento disso...” Pensou ele enquanto abria cada arquivo para certificá-se, mais uma vez, de seu conteúdo.
Peças e peças do grande esquema das coisas... Mas como elas se encaixam?... Certamente muitas forças entraram em cena de uma só vez. Elas foram empregadas com muito cuidado e de maneira finamente calculada, sem dúvida... Mas... Com que finalidade? O que se passa por trás de sua cabeça, se é que se pode dizer que você tem uma... Conde...? Se ao menos eu pudesse me lembrar...”
Um bater leve na porta o pegou desprevenido. Anthony voltou a fechar os arquivos e sentou-se em sua poltrona, de costas para a janela, buscando uma posição confortável. Quando a achou, anunciou com sua potente voz eloquente:
-Por favor, entre. Está aberta.
Com um leve clique a maçaneta virou e por de trás da porta saiu um rosto familiar, apesar de que ambos só se conheceram no dia anterior.
Dessa vez, ao invés do terno sombrio, ele usava um jeans claro, camisa negra por baixo de uma jaqueta branca e carregava debaixo de um dos braços algo que parecia ser uma caixa de sapatos velha, no outro o guarda-chuva estava pendurado da mesma maneira que no dia anterior.
O jovem Adam Albarn fechou a porta por trás de si e cumprimentou Anthony sem qualquer vivacidade. Seu olhar era vazio, seu estado de espírito, Morty sentiu, era o de alguém devastado, sem esperança. Vendo aquilo ele compreendeu.
Uma casca vazia... O pobre coitado parece que acabou de morrer por dentro... Então essa era sua pretensão...” O fluxo de pensamentos continuava, enquanto Adam tomava pesarosamente uma das poltronas do outro lado da escrivaninha para si “Não... Não se trata apenas disso... Há algo mais... O rapaz lhe é perigoso, isso está claro. Mas porquê?... Não consigo me lembrar... Maldição!” Ele percebeu que Adam o encarava como se quisesse dizer algo ao mesmo tempo que não queria interrompê-lo. Anthony achou, por bem, que deveria quebrar o gelo.
-Estou grato por ter atendido ao meu pedido.
-Tem sido... Difícil, realmente... Depois do que aconteceu com Carol... E que todas aquelas manchas nas minhas paredes sumiram do nada...- falava com dificuldade, como se escolhesse as palavras mais apropriadas conforme ia organizando os pensamentos- Foi puro acaso eu ter achado seu telefone... E sinceramente eu não sei o que fazer! Tinha até mesmo minhas dúvidas se o senhor não me acharia um louco!- concluiu desesperadamente.
Anthony apenas meneou a cabeça levemente. Aquela era a sua área de especialização. E casos como aquele tendiam a ocorrer com mais frequência do que gostaria (se bem que o que ele gostaria mesmo era que coisas assim nunca acontecessem), claro que, em geral, a situação a principio não começava com aquele grau de drasticidade. Logo ele abriu um sorriso e disse.
-Se eu te contasse as coisas mais extremas que já vi, rapaz... Acho que quem seria chamado de louco aqui seria eu.
-Não que eu duvide, mas acho que o senhor disse isso mais na intenção de me animar do que me informar... e fico feliz com isso, mas o que eu preciso agora é de respostas. Preciso saber o que aconteceu exatamente ou... Deus, Eu acho que vou enlouquecer!
Acho que é tarde demais para isso, parceiro”. Anthony suspirou.
-Eu acho que posso te dar algumas respostas- Por um momento, os olhos de seu interlocutor brilharam- Mas eu preciso de mais informação. Pelo que você me contou pelo telefone, eu consegui levantar algumas hipóteses, mas não é nada conclusivo. E...- Anthony propositadamente hesitou. Agora vinha a parte difícil- é provável que que tudo que eu diga seja rejeitado por você- Deu de ombros- provavelmente você vai me achar um doido varrido, irá se enfurecer e sair por aquela porta com uma ira cega contra mim por, no mínimo, dizer algo que mais parecerá uma piada de mau gosto- Uma pausa- Mas só posso dizer o que eu acho e o que está nos domínios de meu conhecimento. E convencê-lo de que estou falando sério não será fácil.
Adam ficou calado por um tempo. Meditando sobre o assunto, e a cada momento um pouco de vida parecia voltar aos seus olhos, como que se a ponderação o distraísse dos evento que ocorreram. Por fim ele sorriu um sorriso amargo.
-Sei qual é a sensação. Acho que era mais ou menos isso que eu esperava ouvir de você quando te liguei mais cedo. Mas, venhamos e convenhamos, não tenho mais nada a perder. Estou disposto a escutá-lo e a depositar minha fé em suas hipóteses por mais mirabolantes que sejam.
“O senhor disse que precisava de mais informações, então irei narrar tudo o que se passou  desde que cheguei em casa, está bom assim?”
Anthony, parou para pensar um pouco e logo disse:
-Espere, foi a partir do momento em que você chegou em sua casa que esses... “fenômenos estranhos” começaram a acontecer?
-Foi... Não, espere, tiveram momentos no funeral que...Estranhei. Achei que fosse o cansaço, mas posso narrá-los também se não for nenhum problema.
-Isso seria ótimo.
E assim Adam narrou sobre seu estranho sonho, onde fora jogado dentro do caixão escuro, sobre a velhinha flutuante, sobre como viu seu interlocutor encarar de maneira incomodada o excêntrico de cartola e a senhora, sua casa, o bilhete na geladeira, o assaltante que lembrava o Coringa sem pálpebras, o sangue e as mensagens nas paredes e no teto, sobre como sua noiva supostamente morrera aos 7 anos de vida...
-Fiquei arrasado- Admitiu- Não quis acreditar nas palavras do senhor Lenoir. Mas o pesar e a dor que senti na voz dele ao me falar sobre a sua filha... Eu não podia acreditar que ele mentiria dessa maneira, até por que se fosse qualquer outro problema ele seria franco comigo e não teria dito algo tão surreal quanto... isso- Adam hesitou- Acho... De qualquer forma, fiquei desesperado. Fui meio que cambaleando até o telefone da cozinha para ligar para a polícia, por causa do sangue nas paredes. E enquanto discava, olhei de relance para a sala... E o sangue havia sumido. Tudo havia voltado ao normal. E por um momento achei que ainda estava sonhando. Cheguei a me beliscar diversas vezes para ver se acordava- Ele arregaçou a manga direita e mostrou os pequenos sinais vermelhos no seu braço- Cheguei a sentir esperança novamente...- A voz dele simplesmente sumiu por uma fração de segundo- Foi então que percebi que ainda segurava isso daqui.
Adam tirou do bolço do casaco um pequeno quadrado de papel, onde em um verso havia um recado com uma caligrafia feminina. No outro uma ameaça velada escrita em vermelho.
-Foi a partir daí que cheguei a conclusão que nem tudo havia sido um delírio... Ou nada, talvez... A situação era... É surreal demais. Não quis me arriscar à ligar para o pai dela novamente, temendo magoar ainda mais aquela ferida. Tentei o telefone dela mais uma vez, mas apenas recebi a mensagem de que eu liguei para o número errado ou o número não existia...- Ele respirou fundo e continuou- Dá pra imaginar meu desespero a partir daí. Fui para o quarto e sentei na cama tentando imaginar o que eu faria a partir daquele momento...Não sei quanto tempo passei sentado devaneando, sem ter nada realmente coerente na minha cabeça... E meio que do nada eu lembrei de uma frase: “Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar”. A partir daí o senhor já sabe o resto da história.
Anthony continuou pensativo. Ainda haviam lacunas demais. Tinha que ter mais alguma coisa.
-E isso foi tudo? A partir daquele momento não ocorreu absolutamente mais nada de... Entranho? Não importa o grau. Mesmo um leve incômodo que seja. Aconteceu mais alguma coisa?
Adam ficou calado por algum tempo, provavelmente analisando, que tipos de evento poderiam cair na categoria: “Fora do comum”. E então a expressão dele adquiriu feições de pertubação, como se tivesse acabado de lembrar de algo realmente perturbador.
“Bingo!”
-A gora que o senhor mencionou... Quando eu estava prestes a sair de casa, depois de ter ligado e dizer que eu não poderia comparecer no escritório pela manhã... Senti que estava sendo observado. Haviam olhos em algum lugar me observando... Pra não levantar suspeitas, eu olhei discretamente ao meu redor, mas não vi nada. Pelo caminho, enquanto dirigia, vez por outra pensei ter visto...- Adam hesitou mais uma vez- ah, esquece. Provavelmente eu estava andando rápido de mais.
“Curioso, muito curioso” Pensou Anthony Morty.
-Você conseguiu se abrir comigo a ponto de revelar coisas que pareceriam lunáticas a quase qualquer pessoa que as ouvisse, Adam. Então por que, nesse exato, momento você descarta algo que apenas lhe parece suspeito ou estranho? Isso pode, como você mesmo teorizou, não passar de um engano. Mas pode ser algo relevante...
Adam começou a hesitar em falar a quase todo momento.
-Não é como se eu quisesse fazê-lo... Mas só de pensar que o que possa ter visto fosse real... Sinto... Medo. Não aquele que você sente quando assiste a um filme de terror ou o que você sente quando vê no noticiário uma noticia de uma tragédia na vizinhança... Na verdade, é quase parecido com o medo que senti assim que eu acordei e vi... Aquele... Palhaço sorridente...
Anthony olhou-o demoradamente. O sinais estavam claros.
Adam estava apavorado, verdadeiramente apavorado.
- O que você achou que viu, Adam?
-As crianças... Haviam crianças no meu caminho pra cá... Estavam sozinhas... Ou em duplas... No banco das praças... Em becos...- Ele começou a soluçar. Seus olhos encaravam o vazio
As possibilidades começaram a ser eliminadas o caminho daquele mistério estava ficando cada vez mais claro para Anthony. Agora vinha a ultima pergunta. Ela mostraria o quão problemática era a situação do jovem Albarn... “Isto é, se ele ainda puder me dar mais este detalhe...”
-Ok, Adam. Só mais essa pergunta e começarei a lhe explicar o que eu realmente acho que aconteceu... Não quero pressioná-lo mais do que devo. Então, se for demais para você, poderia me dizer qual era o problema das crianças?
Adam olhou-o demoradamente. Estava evidente que ele queria parar, mas se esforçava para dar aquela ultima informação.
- Senhor Morty... As crianças... Os olhos delas... Os olhos... Eles... Eles...- O jovem começava a tremer.
“Vamos, Adam, só mais essa informação para resolvermos isso logo de uma vez. Faça só mais esse esforço...”
-Sim, o que tinha os olhos delas?
-Pareciam que eram... Negros... Totalmente negros, sem a parte branca ou a íris
Anthony ficou pasmo. “Droga! Como pude ser tão ignorante. Estava tudo exatamente diante de mim”
-Esculte, Adam, você não está em condições de aguentar mais nada. Vamos dar um tempo. Quando você se acalmar...
Adam de repente ficou pálido. Ele levantou a mão e lentamente apontou. A princípio, Anthony achou que teria sido para si próprio, que seguido daquela indicação haveria um ataque histérico sobre como seu interlocutor não poderia esperar mais um minuto se quer. Então o indicador virou levemente apontando para a janela. Os olhos de Adam ficaram esbugalhados. Anthony se virou em sua poltrona para ver... E escutou um baque atrás de si, mas ele não ousou olhar para a fonte do barulho, não, pois contra a janela, por um breve momento, existiu uma figura estranha. Sua cabeça era pálida, não havia rosto, apenas uma mera sugestão. Era um ser longo, alto, esguio... E parecia estar usando um terno. Uma brisa soprou as árvores próximas e a aparição se desfez tão rápido quanto se fez.
Anthony estava incrédulo. “Deuses... Isso é... Não consigo nem exprimir palavras... O pior cenário que previ...” Ele se virou lentamente...
... E viu Adam desmaiado sobre a poltrona, seu rosto  contorcido em uma expressão que só poderia indicar pesadelos e pertubações.
“... Nem se compara às forças que agora cercam esse rapaz...”

domingo, 7 de outubro de 2012

Reinos Modernos (Parte 5)

Segue o 5º capítulo de Reinos Modernos. Ok, tudo bom, ótimo até, mas esse é um dos capítulos mais... Dark ou cruéis da saga até agora. Sinceramente: Não sei o que pensar dele. Por vezes acho que o público o achará muito "pesado", por outras acho que não se importarão. E eu não pude, como ainda não posso removê-lo. Por que o restante da história será impulsionada por esse único e singelo capítulo (até parece... Ok, a maior parte dela, pelo menos).

Ah, mais uma vez (como de praxe) peço perdão pelos erros gramaticais/ sintáticos presentes no texto (não tenho um corretor/ revisor/ editor apropriado para esse tipo de trabalho feito por um fan de.. Ficção Moderna[? Seja lá como chamem o gênero] cujo único objetivo é entreter meus queridos leitores [Sério, se eu não estivesse publicando essa obra semanalmente, provavelmente eu já teria abandonado o projeto. E não importa quão pouco sejam meus leitores. Enquanto existir pelo menos uma pessoa lendo e curtindo essa história, eu continuarei publicando-a])

Então, é com bastante receio e expectativa, que lhes apresento:

Capítulo 5


A porta do pequeno apartamento foi aberta e fechada brevemente. Adam entrou em sua confortável morada. O silêncio prevaleceria não fosse o som da chuva, que intensificava-se, e os barulhos do mundo externo. Analisando brevemente a situação, Adam concluiu que tinha todos os cômodos só para si. Então não perdeu tempo e foi para a cozinha onde bebeu lentamente dois copos d’água. Após o feito, ele percebeu um bilhete preso à porta da geladeira. Ele aproximou-se e cuidadosamente o retirou. Nele estava escrito:

Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.

C.

(Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.)


Um sorriso brotou no rosto dele. Adam ficou algum tempo admirando aquele monograma que, com uma simples curva misturava um “C” com um “L” e pegou-se pensando na pessoa a quem ele pertencia. Um calor o invadiu juntamente com sentimentos de ternura e desejo... Pensar nela causava essa sensação reconfortante e segura da paixão.
Era impressionante como se sentia o homem mais feliz do mundo e um tolo completo perto dela, como era capaz de lhe confessar isso e ser reconfortado com seus sorrisos. Desconcertante. A  paixão é, de fato, algo desconcertante.
Ele pensou em ligar para ela, mas o cansaço falou mais alto. Ele precisava relaxar, dormir um pouco, para só então tentar curar suas feridas e desfrutar de sua boa companhia.
Adam seguiu pelo pequeno corredor, passando pelo quarto de hóspedes e chegando finalmente ao extremo oposto à sala, que era onde ficava a entrada para o seu próprio quarto.
A espaçosa cama estava arrumada, as pastas e documentos estavam organizadas da melhor maneira possível na forma de pilhas ao lado do laptop e sobre a escrivaninha, A planta na qual estava trabalhando fora enrolada e guardada dentro do tubo, que estava escorado entre a escrivaninha e a cadeira. Não havia as roupas costumeiras jogadas por cima da cadeira de escritório. O quarto estava mais bem ordenado que de costume. E isso mais que qualquer outra coisa trouxe uma sensação de contentamento a Adam.
“Ela também está se esforçando... E por mim... Obrigado... De verdade”. Pensou de maneira embargada.
Mas logo ele tirou o blazer e jogou-o sobre a cadeira, desabotoou a camisa e a atirou sobre o blazer. Tirou os sapatos e posicionou-os ao lado da cama. E logo deitou-se somente com sua calça social negra.
O cansaço e o pesar cobraram seu preço, seus olhos pesaram imediatamente, quase como se sua mente lhe sussurrasse suavemente.
“vá dormir...” ou “Descanse. Em. Paz...”
Adam Não resistiu e se entregou ao sono.

Quando acordou, em alguma hora da noite, Adam se sentiu descansado, mas confuso. Lembrava vagamente de seu sonho, mas quanto mais tentava lembrar mais a memória parecia lhe escapar por entre os dedos, como é o comum da maioria dos sonhos. Mas a mente dele ainda resgatava essa pequeno e indistinto fragmento: um vermelho intenso...
Um trovão ribombou e a primeira coisa que Adam viu depois de acordar fez seu coração parar, seu sangue gelar, todos os seus músculos tensionaram e sua mente, devido ao choque, ou talvez à similaridade foi lançada à alguns anos no passado, quando leu, pela primeira vez em muito tempo, uma revistinha do Batman.
Estava a sair pela janela que ficava pouco depois do fim da cama um vulto, aparentemente de estatura mediana. Outro trovão ribombou e por uma fração de segundo Adam viu um par de olhos sem pálpebras, brancos com pupilas dilatadas e uma boca cortada em um macabro e eterno sorriso, uma face pálida como leite.
O intruso levou lentamente o punho direito à boca fazendo um gesto que pedia silêncio, sussurrou um suave “volte a dormir” e pulou pela janela. No feito Adam viu reluzir o reflexo da luz de um poste da rua em um pedaço de metal que o ser macabro carregava.
Mas...” Pensou abobalhado “Eu moro no décimo andar...”
Ainda assustado, o coração quase saindo pela boca e ressoando em seus ouvidos, Adam passou um tempo parado, imóvel, petrificado. As palavras ainda pairando pelo recinto como uma nuvem nefasta. A chuva transformara-se em tempestade no meio tempo de seu sono.
Uma trovoada o tirou de seu choque, uma sensação de descarga elétrica perpassou por todo seu corpo. Rápida e silenciosamente Adam saiu de sua cama e entrou no corredor. A escuridão dentro do apartamento era desconfortável, mas Adam não queria se arriscar com um outro possível intruso. Agachou-se no ponto onde o corredor encontrava-se com a sala e ficou a espreita de qualquer barulho suspeito.
Adam não saberia dizer quanto tempo passou naquela exata posição, talvez alguns minutos, talvez até mesmo uma hora. Mas não escutou absolutamente nada além da tempestade e suas trovoadas.
Quando se deu por satisfeito continuou a andar silenciosamente pela sala até o interruptor que havia próximo à entrada. Ele pisou de leve com seus pés descalços e estranhou alguns pontos molhados no chão, provavelmente a janela deveria ter ficado aberta... Embora Adam estivesse convicto de que ela estava fechada quando entrou no apartamento e ainda agora, através da fraca iluminação externa, ela ainda parecia fechada... Talvez o intruso tenha causado essas poças quando entrou... De qualquer forma, ele tomou cuidado extra para não escorregar. Havia um cheiro estranho no ar, algo como... Ferrugem, muita ferrugem. algo definitivamente estava errado.
Ao chegar no seu destino, e depois de tatear um pouco, o interruptor foi acionado.
Infelizmente. Pois se o interruptor estivesse quebrado ou se a energia tivesse falhado... Talvez... Só talvez, as coisas pudessem ter sido diferentes. Porém...
...Aquela visão ficou gravada como ferro ardente no fundo de suas retinas e evocava os seus sonhos mais macabros. Como o que tivera agora a pouco.
A sala estava vermelha, com poças do rubro líquido aqui e ali, as paredes e o piso e as janelas tinham marcas de mãos e pegadas. Todos os móveis, a mesa, mesa de centro, sofá, televisão, tudo estava manchado. até mesmo a luz estava levemente respingada pela cor carmesim. Assustado, Adam olhou-se rapidamente e percebeu que não havia nada de errado com seu corpo, nenhum arranhão, marca ou dor que indicassem que algum mal lhe havia sido feito.
Algo estalou na mente de Adam. Uma sensação de irrealidade, onirismo. Como se sua razão lutasse contra a percepção de seus sentidos. Como se ele lutasse para tentar acreditar que tudo não passava de um sonho.
O choque foi maior ao ver o desenho.
Havia, na parede que dava para o corredor, um conjunto de três traços, um longo e dois curtos, interceptando-se em um ponto, formando uma rubra seta, que apontava corredor adentro.
Adam receiosamente foi andando, chegou na entrada do corredor e acendeu a luz. O lugar não estava tão manchado como a sala, mas havia algumas pegadas e respingos descuidados. Ele foi seguindo pelo corredor silenciosamente. Chegou, por fim, em frente ao quarto de hóspedes, onde ao redor do umbral várias setas rubras o convidavam a entrar no recinto. E, temendo o que quer que pudesse estar aguardando-o, ele agarrou a maçaneta e entrou.
A condição do quarto era estranhamente repulsiva. A sua maior parte estava tingida naquele líquido, salvo uma falha ou outra no chão e na parede que revelavam o quão às pressas o “serviço” havia sido feito. Mas ao olhar para o teto, o coração de Adam o apertou com força, e ele passou alguns momentos lutando contra um desespero insuportável.
Havia um circulo muito mal feito ao redor da lâmpada que estava intocado pelo tingimento, mas nele estava escrito de maneira circular, quase formando uma espiral, as frases:

Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes.

(Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes)

Mas nao se preocupe e nao se esqueça:
Aquilo que está morto nao pode morrer
Apenas reerguer-se, mais forte e resistente

(Mas não se preocupe e não se esqueça:
Aquilo que está morto não pode morrer
Apenas reerguer-se mais forte e resistente)

Um temor e milhares de questões começaram a fervilhar na mente de Adam, ele andou ainda pasmo, quase que inconscientemente de volta para seu quarto. Fechou a porta atrás de si e ficou a observar de maneira vazia sua cama, a janela aberta e as poças d’água que se formavam no chão.
Sua mente estalou novamente, um pensamento começou a formar-se, uma percepção tenebrosa. Adam sentiu os olhos começarem a se arregalarem. Seu estômago começou a embrulhar. Mais um trovão ribombou e ele, com o canto do olho, percebeu alguma coisa desenhada na parede que estava oposta a janela, mas não havia tempo. Correu o mais rápido que pode para o banheiro da suíte, virou-se para a privada e, quase que instantaneamente, vomitou.
“Ele podia ter me matado a qualquer momento...” Outra golfada. “Eu podia estar morto!” Adam respirou profundamente, limpou um pouco a boca com papel higiênico, sentindo a garganta queimar. O estômago vazio o lembrava que ele não havia comido nada quando chegara. Agora ele estava fraco, desanimado e totalmente apavorado.
“Eu poderia estar morto...”
Não era exatamente uma das melhores situações, mas Adam sabia que pior que aquilo não podia existir. E foi pensando assim, em sua sorte por estar vivo, que ele se levantou e respirou fundo. Não conseguiu se acalmar, mas recuperou o controle do próprio corpo e sua tremedeira começou a ceder. Nesse estado voltou ao seu quarto e ligou a luz.
Foi nesse exato momento que Adam Albarn descobriu uma lição que levaria pelo resto da vida: Qualquer situação, não importa qual seja, o quão ruim seja, sempre pode piorar. E junto com essa lição veio a amargura que viria a permear seu espírito pelo resto de sua existência.
Na parede estava desenhado um único e simples símbolo, capaz de arrasar Adam ainda mais que as palavras escritas a sangue no teto do quarto de hóspedes. Por que ele sabia o que aquele simbolo significava, mas não exatamente. Na parede, do roda-pé até o teto via-se indubitavelmente o desenho:

C.

Disso Adam saiu em disparada, seu destino: A cozinha. Chagando lá ele achou o bilhete preso novamente à geladeira (mas Adam o havia deixado sobre a mesa de jantar...). E no verso do bilhete, com o mesmo tom de brilhante vermelho, Adam leu:

Nem se preocupe,
Cuidaremos muito, muito bem dela

A reação imediata foi o telefonema. “Se eu me desesperar agora, estarei perdido...” Uma ligação perdida. Duas... Três... Adam começou a entrar em pânico. “Calma... Se eu me desesperar agora, ELA estará perdida.” Tentou o telefone dos pais dela. A linha não deu dois toques antes de uma voz grave, com um leve sotaque francês respondesse do outro lado.
-Alô?
“Isso!” Pensou. “Ainda há esperança! Com certeza o bilhete é só um blefe...”
-Sr. Lenoir...- Adam disse em um tom temeroso.
-Sim, quem serria? Sabe que horras são?
-Sei, sim, Mas é importante! Quem fala é Adam, o noivo de Caroline, sua filha.
Houve um silêncio do outro lado da linha. Algo estava errado. E pelo que pareceu uma pequena eternidade, a linha continuou muda.
-Que piada de mau gosto é essa?- A voz do senhor estava transtornada.
-O que você quer dizer? não há piada alguma!
-Não é possible.
-O que você quer dizer, senhor? A Caroline não está?- Disse suavemente, tentando esconder o melhor possível seu temor. E ainda assim, ele estava incrédulo, como o pai de sua noiva não o reconhecia?! Havia algo extremamente errado em tudo isso.
-Caroline... Minha doce Caroline...- A voz dele começou a embargar- ma douce fille... Morreu aos sete anos com uma... Aneméie...Não, anemia aguda... De causas desconhecidas...- Cada palavra soou como se ele estivesse fazendo um esforço colossal para pronunciá-las- Então se puderes me dizer do que se trata tudo isso...
Adam já não mais escutava o que o pai de sua noiva falava... Não havia mais sentido nisso.
"Calma, se eu me desesperar agora... Se eu me desesperar agora..."
De fato, não importa o quão ruim as coisas possam parecer...
"... Será meu fim!"
...Elas sempre podem piorar.