domingo, 14 de outubro de 2012

Reinos Modernos (parte VI)

Ok, segue o 6º capítulo de reinos modernos. Não tenho muito mais a declarar  (E eu sei que vocês gostam dos meus comentários pré-capítulo. Vamos, admitam!).

Ah, eis uma pequena informação interessante extra: A maioria dos seres sobrenaturais que aparecem (e aparecerão) não são de minha criação (ou autoria). Eles são frutos de lendas urbanas que encontrei pela Net. Pesquisei elas no intuito de conseguir material para o escrito e... Elas realmente me assustaram! yup, e bastou apenas isso para incluí-las de maneira adequada no enredo. (Para os corajosos ou estúpidos que estiverem interessados nas fontes originais, pesquisem no google: Creepy Pasta [Warning: Esses troços me assustaram... Muito... Muito MESMO... Então, é, eu não recomendaria fuçar muito dentro do assunto...]. E nesse capítulo haverá uma breve aparição da Creepy Pasta mais famosa ultimamente... Dica: "Não olhem para trás").

Mais uma vez, peço perdão pelos agravadores erros gramaticais/Sintáticos... Seriously, acho que todo bem/maldito capítulo eu vou me desculpar por esses erros... Então... Better get used to it.

Sem mais delongas... É com orgulho (ou não) que lhes apresento:

Capítulo 6


O dia raiou ainda nublado. Um leve chuviscar cobria as casas e ruas. Anthony olhou pela janela do armário de vassouras, que chamava carinhosamente de escritório, durante algum tempo. Pessoas andavam de um lado para o outro, transitavam com seus guarda-chuvas e casacos, compravam as edições ainda secas do jornal do dia na banquinha que ficava próxima.
Eram essas pequenas coisinhas do cotidiano que mantinham o senhor Morty na ativa. Eram elas o gás e a gasolina de suas ações. “Pax eterna” penou ele suavemente “alguém tem que mantê-la...”.
Então consultou rapidamente seu relógio de pulso e virou-se para dentro do gabinete. A luz acinzentada do dia iluminava perfeitamente a escrivaninha de mogno, as poltronas e estantes abarrotadas de livros e pastas. Não era o ambiente de trabalho perfeito, mas era funcional e trazia todo o conforto que aqueles ossos velhos e seu dono precisavam para suportar cada interminável dia.
Ao olhar os arquivos jogados sobre a escrivaninha por ele mesmo mais cedo, seu rosto se contraiu numa expressão pesarosa. Memórias do telefonema que recebera vieram a sua mente e ele suspirou.
Não tivemos nem tempo de nos recuperarmos da sua ida, que seu legado já entrou em cena para nos assombrar... E eu já devia ter conhecimento disso...” Pensou ele enquanto abria cada arquivo para certificá-se, mais uma vez, de seu conteúdo.
Peças e peças do grande esquema das coisas... Mas como elas se encaixam?... Certamente muitas forças entraram em cena de uma só vez. Elas foram empregadas com muito cuidado e de maneira finamente calculada, sem dúvida... Mas... Com que finalidade? O que se passa por trás de sua cabeça, se é que se pode dizer que você tem uma... Conde...? Se ao menos eu pudesse me lembrar...”
Um bater leve na porta o pegou desprevenido. Anthony voltou a fechar os arquivos e sentou-se em sua poltrona, de costas para a janela, buscando uma posição confortável. Quando a achou, anunciou com sua potente voz eloquente:
-Por favor, entre. Está aberta.
Com um leve clique a maçaneta virou e por de trás da porta saiu um rosto familiar, apesar de que ambos só se conheceram no dia anterior.
Dessa vez, ao invés do terno sombrio, ele usava um jeans claro, camisa negra por baixo de uma jaqueta branca e carregava debaixo de um dos braços algo que parecia ser uma caixa de sapatos velha, no outro o guarda-chuva estava pendurado da mesma maneira que no dia anterior.
O jovem Adam Albarn fechou a porta por trás de si e cumprimentou Anthony sem qualquer vivacidade. Seu olhar era vazio, seu estado de espírito, Morty sentiu, era o de alguém devastado, sem esperança. Vendo aquilo ele compreendeu.
Uma casca vazia... O pobre coitado parece que acabou de morrer por dentro... Então essa era sua pretensão...” O fluxo de pensamentos continuava, enquanto Adam tomava pesarosamente uma das poltronas do outro lado da escrivaninha para si “Não... Não se trata apenas disso... Há algo mais... O rapaz lhe é perigoso, isso está claro. Mas porquê?... Não consigo me lembrar... Maldição!” Ele percebeu que Adam o encarava como se quisesse dizer algo ao mesmo tempo que não queria interrompê-lo. Anthony achou, por bem, que deveria quebrar o gelo.
-Estou grato por ter atendido ao meu pedido.
-Tem sido... Difícil, realmente... Depois do que aconteceu com Carol... E que todas aquelas manchas nas minhas paredes sumiram do nada...- falava com dificuldade, como se escolhesse as palavras mais apropriadas conforme ia organizando os pensamentos- Foi puro acaso eu ter achado seu telefone... E sinceramente eu não sei o que fazer! Tinha até mesmo minhas dúvidas se o senhor não me acharia um louco!- concluiu desesperadamente.
Anthony apenas meneou a cabeça levemente. Aquela era a sua área de especialização. E casos como aquele tendiam a ocorrer com mais frequência do que gostaria (se bem que o que ele gostaria mesmo era que coisas assim nunca acontecessem), claro que, em geral, a situação a principio não começava com aquele grau de drasticidade. Logo ele abriu um sorriso e disse.
-Se eu te contasse as coisas mais extremas que já vi, rapaz... Acho que quem seria chamado de louco aqui seria eu.
-Não que eu duvide, mas acho que o senhor disse isso mais na intenção de me animar do que me informar... e fico feliz com isso, mas o que eu preciso agora é de respostas. Preciso saber o que aconteceu exatamente ou... Deus, Eu acho que vou enlouquecer!
Acho que é tarde demais para isso, parceiro”. Anthony suspirou.
-Eu acho que posso te dar algumas respostas- Por um momento, os olhos de seu interlocutor brilharam- Mas eu preciso de mais informação. Pelo que você me contou pelo telefone, eu consegui levantar algumas hipóteses, mas não é nada conclusivo. E...- Anthony propositadamente hesitou. Agora vinha a parte difícil- é provável que que tudo que eu diga seja rejeitado por você- Deu de ombros- provavelmente você vai me achar um doido varrido, irá se enfurecer e sair por aquela porta com uma ira cega contra mim por, no mínimo, dizer algo que mais parecerá uma piada de mau gosto- Uma pausa- Mas só posso dizer o que eu acho e o que está nos domínios de meu conhecimento. E convencê-lo de que estou falando sério não será fácil.
Adam ficou calado por um tempo. Meditando sobre o assunto, e a cada momento um pouco de vida parecia voltar aos seus olhos, como que se a ponderação o distraísse dos evento que ocorreram. Por fim ele sorriu um sorriso amargo.
-Sei qual é a sensação. Acho que era mais ou menos isso que eu esperava ouvir de você quando te liguei mais cedo. Mas, venhamos e convenhamos, não tenho mais nada a perder. Estou disposto a escutá-lo e a depositar minha fé em suas hipóteses por mais mirabolantes que sejam.
“O senhor disse que precisava de mais informações, então irei narrar tudo o que se passou  desde que cheguei em casa, está bom assim?”
Anthony, parou para pensar um pouco e logo disse:
-Espere, foi a partir do momento em que você chegou em sua casa que esses... “fenômenos estranhos” começaram a acontecer?
-Foi... Não, espere, tiveram momentos no funeral que...Estranhei. Achei que fosse o cansaço, mas posso narrá-los também se não for nenhum problema.
-Isso seria ótimo.
E assim Adam narrou sobre seu estranho sonho, onde fora jogado dentro do caixão escuro, sobre a velhinha flutuante, sobre como viu seu interlocutor encarar de maneira incomodada o excêntrico de cartola e a senhora, sua casa, o bilhete na geladeira, o assaltante que lembrava o Coringa sem pálpebras, o sangue e as mensagens nas paredes e no teto, sobre como sua noiva supostamente morrera aos 7 anos de vida...
-Fiquei arrasado- Admitiu- Não quis acreditar nas palavras do senhor Lenoir. Mas o pesar e a dor que senti na voz dele ao me falar sobre a sua filha... Eu não podia acreditar que ele mentiria dessa maneira, até por que se fosse qualquer outro problema ele seria franco comigo e não teria dito algo tão surreal quanto... isso- Adam hesitou- Acho... De qualquer forma, fiquei desesperado. Fui meio que cambaleando até o telefone da cozinha para ligar para a polícia, por causa do sangue nas paredes. E enquanto discava, olhei de relance para a sala... E o sangue havia sumido. Tudo havia voltado ao normal. E por um momento achei que ainda estava sonhando. Cheguei a me beliscar diversas vezes para ver se acordava- Ele arregaçou a manga direita e mostrou os pequenos sinais vermelhos no seu braço- Cheguei a sentir esperança novamente...- A voz dele simplesmente sumiu por uma fração de segundo- Foi então que percebi que ainda segurava isso daqui.
Adam tirou do bolço do casaco um pequeno quadrado de papel, onde em um verso havia um recado com uma caligrafia feminina. No outro uma ameaça velada escrita em vermelho.
-Foi a partir daí que cheguei a conclusão que nem tudo havia sido um delírio... Ou nada, talvez... A situação era... É surreal demais. Não quis me arriscar à ligar para o pai dela novamente, temendo magoar ainda mais aquela ferida. Tentei o telefone dela mais uma vez, mas apenas recebi a mensagem de que eu liguei para o número errado ou o número não existia...- Ele respirou fundo e continuou- Dá pra imaginar meu desespero a partir daí. Fui para o quarto e sentei na cama tentando imaginar o que eu faria a partir daquele momento...Não sei quanto tempo passei sentado devaneando, sem ter nada realmente coerente na minha cabeça... E meio que do nada eu lembrei de uma frase: “Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar”. A partir daí o senhor já sabe o resto da história.
Anthony continuou pensativo. Ainda haviam lacunas demais. Tinha que ter mais alguma coisa.
-E isso foi tudo? A partir daquele momento não ocorreu absolutamente mais nada de... Entranho? Não importa o grau. Mesmo um leve incômodo que seja. Aconteceu mais alguma coisa?
Adam ficou calado por algum tempo, provavelmente analisando, que tipos de evento poderiam cair na categoria: “Fora do comum”. E então a expressão dele adquiriu feições de pertubação, como se tivesse acabado de lembrar de algo realmente perturbador.
“Bingo!”
-A gora que o senhor mencionou... Quando eu estava prestes a sair de casa, depois de ter ligado e dizer que eu não poderia comparecer no escritório pela manhã... Senti que estava sendo observado. Haviam olhos em algum lugar me observando... Pra não levantar suspeitas, eu olhei discretamente ao meu redor, mas não vi nada. Pelo caminho, enquanto dirigia, vez por outra pensei ter visto...- Adam hesitou mais uma vez- ah, esquece. Provavelmente eu estava andando rápido de mais.
“Curioso, muito curioso” Pensou Anthony Morty.
-Você conseguiu se abrir comigo a ponto de revelar coisas que pareceriam lunáticas a quase qualquer pessoa que as ouvisse, Adam. Então por que, nesse exato, momento você descarta algo que apenas lhe parece suspeito ou estranho? Isso pode, como você mesmo teorizou, não passar de um engano. Mas pode ser algo relevante...
Adam começou a hesitar em falar a quase todo momento.
-Não é como se eu quisesse fazê-lo... Mas só de pensar que o que possa ter visto fosse real... Sinto... Medo. Não aquele que você sente quando assiste a um filme de terror ou o que você sente quando vê no noticiário uma noticia de uma tragédia na vizinhança... Na verdade, é quase parecido com o medo que senti assim que eu acordei e vi... Aquele... Palhaço sorridente...
Anthony olhou-o demoradamente. O sinais estavam claros.
Adam estava apavorado, verdadeiramente apavorado.
- O que você achou que viu, Adam?
-As crianças... Haviam crianças no meu caminho pra cá... Estavam sozinhas... Ou em duplas... No banco das praças... Em becos...- Ele começou a soluçar. Seus olhos encaravam o vazio
As possibilidades começaram a ser eliminadas o caminho daquele mistério estava ficando cada vez mais claro para Anthony. Agora vinha a ultima pergunta. Ela mostraria o quão problemática era a situação do jovem Albarn... “Isto é, se ele ainda puder me dar mais este detalhe...”
-Ok, Adam. Só mais essa pergunta e começarei a lhe explicar o que eu realmente acho que aconteceu... Não quero pressioná-lo mais do que devo. Então, se for demais para você, poderia me dizer qual era o problema das crianças?
Adam olhou-o demoradamente. Estava evidente que ele queria parar, mas se esforçava para dar aquela ultima informação.
- Senhor Morty... As crianças... Os olhos delas... Os olhos... Eles... Eles...- O jovem começava a tremer.
“Vamos, Adam, só mais essa informação para resolvermos isso logo de uma vez. Faça só mais esse esforço...”
-Sim, o que tinha os olhos delas?
-Pareciam que eram... Negros... Totalmente negros, sem a parte branca ou a íris
Anthony ficou pasmo. “Droga! Como pude ser tão ignorante. Estava tudo exatamente diante de mim”
-Esculte, Adam, você não está em condições de aguentar mais nada. Vamos dar um tempo. Quando você se acalmar...
Adam de repente ficou pálido. Ele levantou a mão e lentamente apontou. A princípio, Anthony achou que teria sido para si próprio, que seguido daquela indicação haveria um ataque histérico sobre como seu interlocutor não poderia esperar mais um minuto se quer. Então o indicador virou levemente apontando para a janela. Os olhos de Adam ficaram esbugalhados. Anthony se virou em sua poltrona para ver... E escutou um baque atrás de si, mas ele não ousou olhar para a fonte do barulho, não, pois contra a janela, por um breve momento, existiu uma figura estranha. Sua cabeça era pálida, não havia rosto, apenas uma mera sugestão. Era um ser longo, alto, esguio... E parecia estar usando um terno. Uma brisa soprou as árvores próximas e a aparição se desfez tão rápido quanto se fez.
Anthony estava incrédulo. “Deuses... Isso é... Não consigo nem exprimir palavras... O pior cenário que previ...” Ele se virou lentamente...
... E viu Adam desmaiado sobre a poltrona, seu rosto  contorcido em uma expressão que só poderia indicar pesadelos e pertubações.
“... Nem se compara às forças que agora cercam esse rapaz...”

domingo, 7 de outubro de 2012

Reinos Modernos (Parte 5)

Segue o 5º capítulo de Reinos Modernos. Ok, tudo bom, ótimo até, mas esse é um dos capítulos mais... Dark ou cruéis da saga até agora. Sinceramente: Não sei o que pensar dele. Por vezes acho que o público o achará muito "pesado", por outras acho que não se importarão. E eu não pude, como ainda não posso removê-lo. Por que o restante da história será impulsionada por esse único e singelo capítulo (até parece... Ok, a maior parte dela, pelo menos).

Ah, mais uma vez (como de praxe) peço perdão pelos erros gramaticais/ sintáticos presentes no texto (não tenho um corretor/ revisor/ editor apropriado para esse tipo de trabalho feito por um fan de.. Ficção Moderna[? Seja lá como chamem o gênero] cujo único objetivo é entreter meus queridos leitores [Sério, se eu não estivesse publicando essa obra semanalmente, provavelmente eu já teria abandonado o projeto. E não importa quão pouco sejam meus leitores. Enquanto existir pelo menos uma pessoa lendo e curtindo essa história, eu continuarei publicando-a])

Então, é com bastante receio e expectativa, que lhes apresento:

Capítulo 5


A porta do pequeno apartamento foi aberta e fechada brevemente. Adam entrou em sua confortável morada. O silêncio prevaleceria não fosse o som da chuva, que intensificava-se, e os barulhos do mundo externo. Analisando brevemente a situação, Adam concluiu que tinha todos os cômodos só para si. Então não perdeu tempo e foi para a cozinha onde bebeu lentamente dois copos d’água. Após o feito, ele percebeu um bilhete preso à porta da geladeira. Ele aproximou-se e cuidadosamente o retirou. Nele estava escrito:

Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.

C.

(Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.)


Um sorriso brotou no rosto dele. Adam ficou algum tempo admirando aquele monograma que, com uma simples curva misturava um “C” com um “L” e pegou-se pensando na pessoa a quem ele pertencia. Um calor o invadiu juntamente com sentimentos de ternura e desejo... Pensar nela causava essa sensação reconfortante e segura da paixão.
Era impressionante como se sentia o homem mais feliz do mundo e um tolo completo perto dela, como era capaz de lhe confessar isso e ser reconfortado com seus sorrisos. Desconcertante. A  paixão é, de fato, algo desconcertante.
Ele pensou em ligar para ela, mas o cansaço falou mais alto. Ele precisava relaxar, dormir um pouco, para só então tentar curar suas feridas e desfrutar de sua boa companhia.
Adam seguiu pelo pequeno corredor, passando pelo quarto de hóspedes e chegando finalmente ao extremo oposto à sala, que era onde ficava a entrada para o seu próprio quarto.
A espaçosa cama estava arrumada, as pastas e documentos estavam organizadas da melhor maneira possível na forma de pilhas ao lado do laptop e sobre a escrivaninha, A planta na qual estava trabalhando fora enrolada e guardada dentro do tubo, que estava escorado entre a escrivaninha e a cadeira. Não havia as roupas costumeiras jogadas por cima da cadeira de escritório. O quarto estava mais bem ordenado que de costume. E isso mais que qualquer outra coisa trouxe uma sensação de contentamento a Adam.
“Ela também está se esforçando... E por mim... Obrigado... De verdade”. Pensou de maneira embargada.
Mas logo ele tirou o blazer e jogou-o sobre a cadeira, desabotoou a camisa e a atirou sobre o blazer. Tirou os sapatos e posicionou-os ao lado da cama. E logo deitou-se somente com sua calça social negra.
O cansaço e o pesar cobraram seu preço, seus olhos pesaram imediatamente, quase como se sua mente lhe sussurrasse suavemente.
“vá dormir...” ou “Descanse. Em. Paz...”
Adam Não resistiu e se entregou ao sono.

Quando acordou, em alguma hora da noite, Adam se sentiu descansado, mas confuso. Lembrava vagamente de seu sonho, mas quanto mais tentava lembrar mais a memória parecia lhe escapar por entre os dedos, como é o comum da maioria dos sonhos. Mas a mente dele ainda resgatava essa pequeno e indistinto fragmento: um vermelho intenso...
Um trovão ribombou e a primeira coisa que Adam viu depois de acordar fez seu coração parar, seu sangue gelar, todos os seus músculos tensionaram e sua mente, devido ao choque, ou talvez à similaridade foi lançada à alguns anos no passado, quando leu, pela primeira vez em muito tempo, uma revistinha do Batman.
Estava a sair pela janela que ficava pouco depois do fim da cama um vulto, aparentemente de estatura mediana. Outro trovão ribombou e por uma fração de segundo Adam viu um par de olhos sem pálpebras, brancos com pupilas dilatadas e uma boca cortada em um macabro e eterno sorriso, uma face pálida como leite.
O intruso levou lentamente o punho direito à boca fazendo um gesto que pedia silêncio, sussurrou um suave “volte a dormir” e pulou pela janela. No feito Adam viu reluzir o reflexo da luz de um poste da rua em um pedaço de metal que o ser macabro carregava.
Mas...” Pensou abobalhado “Eu moro no décimo andar...”
Ainda assustado, o coração quase saindo pela boca e ressoando em seus ouvidos, Adam passou um tempo parado, imóvel, petrificado. As palavras ainda pairando pelo recinto como uma nuvem nefasta. A chuva transformara-se em tempestade no meio tempo de seu sono.
Uma trovoada o tirou de seu choque, uma sensação de descarga elétrica perpassou por todo seu corpo. Rápida e silenciosamente Adam saiu de sua cama e entrou no corredor. A escuridão dentro do apartamento era desconfortável, mas Adam não queria se arriscar com um outro possível intruso. Agachou-se no ponto onde o corredor encontrava-se com a sala e ficou a espreita de qualquer barulho suspeito.
Adam não saberia dizer quanto tempo passou naquela exata posição, talvez alguns minutos, talvez até mesmo uma hora. Mas não escutou absolutamente nada além da tempestade e suas trovoadas.
Quando se deu por satisfeito continuou a andar silenciosamente pela sala até o interruptor que havia próximo à entrada. Ele pisou de leve com seus pés descalços e estranhou alguns pontos molhados no chão, provavelmente a janela deveria ter ficado aberta... Embora Adam estivesse convicto de que ela estava fechada quando entrou no apartamento e ainda agora, através da fraca iluminação externa, ela ainda parecia fechada... Talvez o intruso tenha causado essas poças quando entrou... De qualquer forma, ele tomou cuidado extra para não escorregar. Havia um cheiro estranho no ar, algo como... Ferrugem, muita ferrugem. algo definitivamente estava errado.
Ao chegar no seu destino, e depois de tatear um pouco, o interruptor foi acionado.
Infelizmente. Pois se o interruptor estivesse quebrado ou se a energia tivesse falhado... Talvez... Só talvez, as coisas pudessem ter sido diferentes. Porém...
...Aquela visão ficou gravada como ferro ardente no fundo de suas retinas e evocava os seus sonhos mais macabros. Como o que tivera agora a pouco.
A sala estava vermelha, com poças do rubro líquido aqui e ali, as paredes e o piso e as janelas tinham marcas de mãos e pegadas. Todos os móveis, a mesa, mesa de centro, sofá, televisão, tudo estava manchado. até mesmo a luz estava levemente respingada pela cor carmesim. Assustado, Adam olhou-se rapidamente e percebeu que não havia nada de errado com seu corpo, nenhum arranhão, marca ou dor que indicassem que algum mal lhe havia sido feito.
Algo estalou na mente de Adam. Uma sensação de irrealidade, onirismo. Como se sua razão lutasse contra a percepção de seus sentidos. Como se ele lutasse para tentar acreditar que tudo não passava de um sonho.
O choque foi maior ao ver o desenho.
Havia, na parede que dava para o corredor, um conjunto de três traços, um longo e dois curtos, interceptando-se em um ponto, formando uma rubra seta, que apontava corredor adentro.
Adam receiosamente foi andando, chegou na entrada do corredor e acendeu a luz. O lugar não estava tão manchado como a sala, mas havia algumas pegadas e respingos descuidados. Ele foi seguindo pelo corredor silenciosamente. Chegou, por fim, em frente ao quarto de hóspedes, onde ao redor do umbral várias setas rubras o convidavam a entrar no recinto. E, temendo o que quer que pudesse estar aguardando-o, ele agarrou a maçaneta e entrou.
A condição do quarto era estranhamente repulsiva. A sua maior parte estava tingida naquele líquido, salvo uma falha ou outra no chão e na parede que revelavam o quão às pressas o “serviço” havia sido feito. Mas ao olhar para o teto, o coração de Adam o apertou com força, e ele passou alguns momentos lutando contra um desespero insuportável.
Havia um circulo muito mal feito ao redor da lâmpada que estava intocado pelo tingimento, mas nele estava escrito de maneira circular, quase formando uma espiral, as frases:

Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes.

(Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes)

Mas nao se preocupe e nao se esqueça:
Aquilo que está morto nao pode morrer
Apenas reerguer-se, mais forte e resistente

(Mas não se preocupe e não se esqueça:
Aquilo que está morto não pode morrer
Apenas reerguer-se mais forte e resistente)

Um temor e milhares de questões começaram a fervilhar na mente de Adam, ele andou ainda pasmo, quase que inconscientemente de volta para seu quarto. Fechou a porta atrás de si e ficou a observar de maneira vazia sua cama, a janela aberta e as poças d’água que se formavam no chão.
Sua mente estalou novamente, um pensamento começou a formar-se, uma percepção tenebrosa. Adam sentiu os olhos começarem a se arregalarem. Seu estômago começou a embrulhar. Mais um trovão ribombou e ele, com o canto do olho, percebeu alguma coisa desenhada na parede que estava oposta a janela, mas não havia tempo. Correu o mais rápido que pode para o banheiro da suíte, virou-se para a privada e, quase que instantaneamente, vomitou.
“Ele podia ter me matado a qualquer momento...” Outra golfada. “Eu podia estar morto!” Adam respirou profundamente, limpou um pouco a boca com papel higiênico, sentindo a garganta queimar. O estômago vazio o lembrava que ele não havia comido nada quando chegara. Agora ele estava fraco, desanimado e totalmente apavorado.
“Eu poderia estar morto...”
Não era exatamente uma das melhores situações, mas Adam sabia que pior que aquilo não podia existir. E foi pensando assim, em sua sorte por estar vivo, que ele se levantou e respirou fundo. Não conseguiu se acalmar, mas recuperou o controle do próprio corpo e sua tremedeira começou a ceder. Nesse estado voltou ao seu quarto e ligou a luz.
Foi nesse exato momento que Adam Albarn descobriu uma lição que levaria pelo resto da vida: Qualquer situação, não importa qual seja, o quão ruim seja, sempre pode piorar. E junto com essa lição veio a amargura que viria a permear seu espírito pelo resto de sua existência.
Na parede estava desenhado um único e simples símbolo, capaz de arrasar Adam ainda mais que as palavras escritas a sangue no teto do quarto de hóspedes. Por que ele sabia o que aquele simbolo significava, mas não exatamente. Na parede, do roda-pé até o teto via-se indubitavelmente o desenho:

C.

Disso Adam saiu em disparada, seu destino: A cozinha. Chagando lá ele achou o bilhete preso novamente à geladeira (mas Adam o havia deixado sobre a mesa de jantar...). E no verso do bilhete, com o mesmo tom de brilhante vermelho, Adam leu:

Nem se preocupe,
Cuidaremos muito, muito bem dela

A reação imediata foi o telefonema. “Se eu me desesperar agora, estarei perdido...” Uma ligação perdida. Duas... Três... Adam começou a entrar em pânico. “Calma... Se eu me desesperar agora, ELA estará perdida.” Tentou o telefone dos pais dela. A linha não deu dois toques antes de uma voz grave, com um leve sotaque francês respondesse do outro lado.
-Alô?
“Isso!” Pensou. “Ainda há esperança! Com certeza o bilhete é só um blefe...”
-Sr. Lenoir...- Adam disse em um tom temeroso.
-Sim, quem serria? Sabe que horras são?
-Sei, sim, Mas é importante! Quem fala é Adam, o noivo de Caroline, sua filha.
Houve um silêncio do outro lado da linha. Algo estava errado. E pelo que pareceu uma pequena eternidade, a linha continuou muda.
-Que piada de mau gosto é essa?- A voz do senhor estava transtornada.
-O que você quer dizer? não há piada alguma!
-Não é possible.
-O que você quer dizer, senhor? A Caroline não está?- Disse suavemente, tentando esconder o melhor possível seu temor. E ainda assim, ele estava incrédulo, como o pai de sua noiva não o reconhecia?! Havia algo extremamente errado em tudo isso.
-Caroline... Minha doce Caroline...- A voz dele começou a embargar- ma douce fille... Morreu aos sete anos com uma... Aneméie...Não, anemia aguda... De causas desconhecidas...- Cada palavra soou como se ele estivesse fazendo um esforço colossal para pronunciá-las- Então se puderes me dizer do que se trata tudo isso...
Adam já não mais escutava o que o pai de sua noiva falava... Não havia mais sentido nisso.
"Calma, se eu me desesperar agora... Se eu me desesperar agora..."
De fato, não importa o quão ruim as coisas possam parecer...
"... Será meu fim!"
...Elas sempre podem piorar.

domingo, 30 de setembro de 2012

Tributo II

Eis meu segundo tributo àquele que realmente mereceu, mais por me aturar e me guiar por mais de 20 anos, Do que por qualquer outra coisa. Sou-lhe hoje muitíssimo grato por tudo que você fez e ainda faz por mim. Ainda que eu ache (Espere e deseje e tema) que você jamais veja essa publicação.

Todos merecem ser homenageados uma vez ou outra. E espero, sinceramente, que eu consiga chegar ao termo de fazê-lo a todos que tiveram alguma relevância para mim.

Aos demais leitores. Só espero que isso lhes ilumine alguma coisa à meu respeito e ilustre o respeito que tenho pela pessoa homenageada...

Eis que lhes apresento minha homenagem pessoal à uma das pessoas mais importantes de toda minha vida (sério, se a nomeada pessoa não existisse... Posso dizer que as coisas seriam bem diferentes)... Vocês provavelmente já sacaram de quem se trata... Se não, ficará extremamente claro depois da leitura.

Sem mais enrolação:

Tributo II
                               "Você diz que seus pais não entendem...
                                                     ...Mas você não entende seus pais"
                                                                         Pais e filhos- Legião Urbana


Grande engenheiro do meu caminho
Engenhoso gênio que me serviu de inspiração
Nunca deixou de me demonstrar seu carinho
indômito, que para sempre estará em meu coração
Leve, composto e cuidadoso. Uma pessoa de integridade
Daquelas de um carater de caridade
O ser à quem tenho a honra de pai nomear

Lamento que talvez ele de tudo não compreeda
Uma vez que humano ele ainda é
Invariavelmente, eu ainda sei e talvez você entenda
Zangar-se e frustrar-se é tão comum como o virar da maré

Brinco em meus delírios, mas isso é uma nescessidade
Onde quer que eu vá, peço-lhe perdão pelos meus desvios
Realmente, tu merecias um filho de maiores capacidades
Bem, sou o filho que tens, e sei que eu lhe trouxe muitos alívios
Ainda que tenhas que enfrentar tão duras realidades

Sinceramente... Obrigado por tudo. De verdade. Obrigado.... Pai

Reinos Modernos (Parte 4)

Eis o capítulo da semana. Peço desculpas pela demora, mas tive que dar uma ultima revisada no texto (Não importa quantas vezes eu o faça, parece que sempre existe algo que eu possa corrigir, acertar ou melhorar. E olhem que eu faço, no mínimo, três revisões do capítulo da semana, enquanto vou redigindo os próximos)

Mais uma vez eu peço perdão pelos erros gramaticais (Ortográficos e Sintáticos). Dei uma atualizada nos capítulos anteriores, corrigindo mais erros que eu, por ventura, encontrei. E espero, sinceramente, que vocês aproveitem e curtam o capítulo.

(ah, o tributo dessa semana está quase pronto. Acho que o postarei bem mais tarde, mas ainda hoje)

Um abraço, boa leitura...
E lá vai nada:

Capítulo 4:


Anthony pegou um guarda-chuva branco que deixara discretamente contra a parede adjacente ao arco de entrada, Adam carregava o seu pendurado no braço. Ambos deram a volta, um trajeto de meros 100 metros aproximadamente, até os fundos da Catedral. Ambos em silêncio. Adam pensava em como encarar aquela ultima parte do rito funerário e no que seu companheiro poderia estar ponderando.
Ao chegarem no cemitério propriamente dito, o jovem espantou-se. Haviam mausoléus e lápides encabeçadas por estátuas, anjos, santos e gárgulas. “Incrível! mesmo na morte, vemos o orgulho humano estampado em todo lugar...” pensou. Sua dupla seguiu até o ponto onde se conglomeravam os pesarosos convidados. Ali uma cova havia sido cavada com sete palmos de profundidade aproximadamente. Fato era que Adam nunca entendera o motivo de cavarem tão fundo. Não era como se os mortos fossem tentar escapar de seus confortáveis túmulos, ou mesmo se importassem se seriam ou não raptados. Como esse pensamente não o levaria a lugar nenhum, ele o deixou de lado e se pôs a observar. Pouco acima da cabeceira do buraco havia uma simples lápide onde se lia

Marcus Devian
(1963 – 2017)

Abissus abissum invocat

Adam se demorou, observando atentamente o epitáfio de seu falecido amigo. Até que por fim, vieram os carregadores, e com eles o caixão.
Assim que foi posicionado no seu devido lugar, o arcebispo abriu a bíblia e recitou suas sagradas palavras, implorando ao Todo-Poderoso Deus que julgasse justamente a alma de tão extraordinário caráter e que a alma encontrasse no coração do Pai o perdão pelos pecados que cometera e glória pelas virtudes que nutrira. Eram belas palavras aquelas e Adam realmente desejava que assim fosse.
Flores foram jogadas, terra e lágrimas também. A cerimônia seguia para seu fim. Alguns dos presente já se retiravam. Provavelmente já não aguentavam mais aquilo: O enterro ou o pesar. Outros provavelmente tinham afazeres mais importantes, talvez já estivessem atrasados. Não importava, na verdade as únicas pessoas que eram realmente obrigadas a acompanhar a cerimônia até o final eram aquelas que sentiam que era sua obrigação pessoal fazê-lo. Sem dúvida a senhora Devian ficaria até o final, como também o fariam seus parentes mais próximos, Talvez não tanto pelo defunto como pela viúva. Anthony seria outro que com certeza iria se demorar mais um pouco. Ficariam, talvez, mais seis ou sete convidados por acharem que seria falta de decoro ou respeito para com o falecido. O restante provavelmente acharia que o defunto não se importaria se eles saíssem um pouco mais cedo.
Depois de concluído aquele ritual onde os vivos se despedem do morto, Adam percebeu que Anthony olhava incomodado para algum ponto entre os presentes. Ele teve de procurar pouco.
Mas o que viu o incomodou.
Dentre os remanescentes havia uma excêntrica presença. Suas vestes eram negras, seus cabelos eram negros (provavelmente tingidos), usava um monóculo que obstruía a visão de Adam do seu olho esquerdo. Seu olho direito era castanho e desinteressado. Olhava a lápide como se divagasse, alisava a todo tempo com um único, lento e preciso movimento o fino bigode e a barbicha pontuda do mesmo tom artificial de negro que o cabelo. Era alto e sua cartola o tornava ainda mais alto. Ao seu lado, discretamente posicionada, estava a senhora que Adam viu pouco antes de sair da Catedral.
 Era uma dupla pitoresca. O homem parecia ser diversos anos mais novo que a senhora e era quase duas cabeças mais alto, três se a cartola fosse levada em consideração. Mais pitoresco ainda foi quando a senhora de feições amáveis deu um leve puxão na manga de seu acompanhante e este se curvou tanto que Adam achou que ele cairia. Quando suas cabeças se nivelaram, ela sussurrou em seu ouvido e, pelo tempo que passou naquela posição, o homem manteve-se intensamente compenetrado no que lhe era dito. Anthony olhava a cena incomodado.
Tudo terminou em uma questão de segundos o homem fez um pequeno aceno com a cabeça, soltou um leve suspiro de derrota, graciosamente se levantou e virava-se para partir. Adam o viu dar uma rápida piscadela marota, como se soubesse que estava sendo observado e quem o estava observando, e foi embora cemitério afora.
Já a senhora continuou onde estava mais um tempinho, olhando a lápide sonhadoramente. Depois, como se apercebesse de que haviam mais coisas a serem feitas ela seguiu pelas lápides e estátuas, provavelmente procurando o ponto de descanso de outro que já lhe foi querido.
Anthony continuou olhando na direção onde o homem da cartola desaparecera.
-Algum conhecido seu?- Perguntou Adam.
-De uma forma ou de outra... Mas não tenho certeza de que era realmente ele- Suspirou Anthoy.
- O que aconteceu agora a pouco... O que te incomodou tanto assim?
-Temos aqui um pequeno curioso, não é mesmo?- O velho o olhou ainda incomodado, sua voz tinha um leve toque de reprovação- Temo que não possa lhe responder a essa pergunta, porque sinceramente eu não sei. E não posso te revelar minhas suspeitas. Então peço, em nome da amizade que você tinha por Marcus, que não mais me questione o sobre o ocorrido. Isso pode ter relação com assuntos perigosos, cujo mero conhecimento já o poria em risco.
Isso só serviu para atiçar a curiosidade de Adam e fermentar mais uma torrente de perguntas, mas ele respeitou o pedido do velho de branco. Ao invés disso ele tentou levar a conversa para outro rumo.
-O que é esse epitáfio?
Anthony olhou brevemente para a lápide de Marcus.
-Foi algo que ele leu num livro. São três palavras do latim que o atormentavam e o mantinham vigilante o tempo todo desde que as aprendeu. Ele as repetia constantemente em noites sombrias ou antes de começar um trabalho.
-E o que elas significam?
-Abismo invoca abismo. Ou, parafraseando o dito livro “Um passo em falso leva ao outro”.
Adam acenou. Eram boas palavras, talvez tenebrosamente irônicas, levando-se em consideração o local onde estavam inscritas. E talvez por isso soavam como uma espécie de conselho. O ultimo conselho de Marcus Devian, que sua alma descansasse em paz.
(“Um paço em falso leva ao outro. Eu dei os meus e veja onde eu parei!”)
Isso fez com que Adam se sentisse melancólico. Ele olhou para os céus, a chuva começava a cessar.
-E agora?- indagou, mais para si do que para Anthony.
-Eu vou voltar para meu “apertamento” e tentar encontrar um ou dois documentos que eu já deveria ter em posse. Talvez antes disso, eu fique mais um pouco por aqui. Já você...- Anthony deu de ombros- Faça o que bem entender. Mas se quiser aceitar um conselho, de um amigo de Marcus para outro: recomendo que volte para casa e vá dormir o mais rápido possível, sua aparência parece bem cansada, está pior que a de Marcus, e olha que ele era o defunto.
Adam, com esse pequeno lembrete, lembrou-se e, consequentemente, sentiu a dor e cansaço do trabalho. Anthony dizia a verdade. Precisava dormir, descansar um pouco. Com certeza seu pai compreenderia... Talvez... Com um pouco de sorte, e o liberaria pelo resto do dia. E não havia outro remédio, então ele cordialmente se despediu de Anthony, que após as devida formalidades acrescentou.
-Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar- Disse ao mesmo tempo que entregava um cartãozinho de serviços onde se lia em pequenas letras douradas.

Anthony Morty

Tel: 6077-157-707

Adam levantou uma sobrancelha.
-Seu sobrenome é Morte?
Isso fez o senhor Morty gargalhar. Velho do jeito que era, soou estridente e asmático, até que a gargalhada se transformou, de fato, num ataque de tosse.
-Não é Mor”te”, é Mor”ti”- disse ainda sorrindo- Mas essa piada já é quase tão velha quanto eu.
“De qualquer forma, está ficando tarde e se você continuar aqui por muito mais tempo, pode ser que comece a chover mais uma vez.”
-Mas e quanto ao senhor?
-Eu? Bem, talvez eu ainda tenha uma coisa ou duas para fazer por aqui. Vá andando.
“Se o destino quiser, nos veremos novamente”.

domingo, 23 de setembro de 2012

Tributo (I)

Agora, acho que começarei uma série de poemas. Tributos à algumas pessoas (Nem se preocupem, isso não afetará, de forma alguma, a série Reinos Modernos). Mas acredito que todas as pessoas merecem um tributo decente vez por outra. Meu único arrependimento é a respeito do sujeito que está fazendo tais homenagens XD. E que, talvez, esses poemas não sejam dignos dessas pessoas.

Esse é dedicado à... Bem, não estragarei a surpresa =D (E está na cara)


Àquela que muito, muito longe está
Lá naquele longe, longe lugar
Incrivel estrela numa escura noite
Não importa a distancia que nos é imposta
Esteve sempre ao meu lado ontém e hoje

Brilha intensamente o brilho de tua felicidade
Ouço alegremente as canções de tua cidade
Roubado me foi, de sua presença, o conforto
Bela foi sua saida da praia, da costa
Ainda mais acompanhada de tão imponente esposo

Melodias foram e serão cantadas
Ainda que talvez não sejam ouvidas
Indago-me se não ficarias encantada
Ao saber que glorificam sua alegria

Mas chega o momento e não quero me despedir
Ainda assim a escrita se encurta
Fazendo-me ir
Agora paro. Frase curta
Logo me vem em ondas longas
Dominado, o sono me vem e me cala
O onirismo vem, mas sua luz minha alma acalma

Reinos Modernos (Parte 3)

Aqui está o capítulo dessa semana de reinos Modernos, Espero que vocês curtam

(E já aproveitando para pedir perdão por qualquer erro gramatical ou sintáxico que eu possa ter cometido)

ok, aqui vai nada:

Capítulo 3:


Foi com um solavanco que Adam acordou. Suava frio, suas roupas estavam encharcadas e ele tremia levemente. E qual não foi sua surpresa e constrangimento ao perceber que dormira sentado durante o fúnebre velório do pobre Marcus. Após olhar ao redor e se desculpar utilizando pequenos gesto com a senhora que levou um susto ao seu lado, Adam viu que ainda chovia, Anthony ainda discursava e o burburinho continuava. Nunca antes se sentira tão aliviado em toda a sua vida e sua realidade nunca antes lhe transmitiu tamanha sensação de segurança. E ainda assim o sonho o havia perturbado, parecera real demais e com detalhes demais. Ele tentou esquecer isso e se concentrar no que estava sendo dito, mas quanto mais tentava esquecer o pânico e a sensação de terror, mais nítida vinha-lhe à mente a imagem decrépita daquele singular olho verde.
A cerimônia seguiu para a próxima etapa. Os convidados começaram a tirar seus guarda-chuvas e se dirigir ao cemitério. Aos poucos a nave foi se esvaziando até que permaneceram somente a esposa e seus familiares mais próximos, os transeuntes, que voltaram a esperar que a chuva passasse na saída da Catedral, Anthony, o arcebispo e Adam.
O jovem se dirigiu ao altar, passando pela mulher que estava sendo amparada presumivelmente pelas irmãs e pais, e chegando até a beirada do caixão. Ele olhou desconfiado para o homem de branco e ficou muito aliviado ao ver que ambos os olhos dele eram de tom azul elétrico. Ele então olhou para dentro do caixão.
E lá estava Marcus. Seus cabelos marrons, já com alguns fios grisalhos, que originalmente eram rebeldes foram tratados com gel e outros produtos para ficarem impecavelmente penteados, seus olhos estavam fechados, sua feição era suave, com se estivesse dormindo e seus lábios apenas sugeriam um sorriso, como que se segurando para não estragar a piada.
Isso fez Adam esboçar um sorriso, e deixar algumas lágrimas rolarem. Pelo menos aquelo corpo dentro de um terninho de terceira parecia...
(Descanse. Em. Paz...)
...Sereno. Isso de certa forma confortava Adam, ainda que nunca mais fosse falar com o tio, pelo menos ele sabia que agora ele estava em paz...
-É realmente uma pena o que aconteceu com ele. Preferia que fosse de outra forma. Acho que se fosse, o pobre infeliz teria ainda mais alguns anos.
A voz que vinha de trás dele só poderia pertencer ao sujeito de branco, Anthony. E mesmo assim, ou por causa disso, Adam não pode evitar o calafrio e um pequeno espasmo de susto. Ao perceber a surpresa do rapaz, o senhor retorceu o canto do lábio no que poderia ser um pequeno sorriso, não fosse o bigode. Adam voltou a olhar o corpo do amigo.
-E eu estava com ele justamente um dia antes de...-Sua voz começava a embargar- Deus! Ele parecia tão bem... Tão... Vivo! O que raios poderia ter causado... causado... Isso...?
Adam fazia força para conter as lágrimas, uma mão ossuda pousou levemente em seu ombro.
-Não posso lhe dar os detalhes, mas posso lhe garantir que este homem morreu acreditando estar fazendo o que era certo, pelo bem dos seus ideais.
-Grande bem isso lhe fez...- Havia amargura na voz de Adam- Espere... Quer dizer que- ele virou-se para encarar o velho novamente- você estava presente quando...
Adam não conseguiu terminar. Anthony se limitou a abanar a cabeça.
-E impotente para evitar que acontecesse, para o pesar de todos. O fato ainda me pesa. E muito.
-Quer dizer que a culpa é sua?! Por sua causa ele...
-Morreu. Sim e não. Posso admitir parte da culpa, ou toda ela, mas não posso mudar esse fato. Marcus está morto e o responsável está... Bem, não saberia dizer nada quanto ao responsável, o verdadeiro pelo menos.
- O que você quer dizer com isso?
-Não posso te falar, sigilo do trabalho e ossos do oficio. Eu te garanto que o trabalho dele não era livre de perigos, sim. Porém...
-O quê?!- havia um tom de desafio por trás de sua voz.
-Meu caro- Anthony adquiriu uma postura séria- Não ouvistes o que passei quase meia hora explicando?! Um dos riscos que cada um de nós assumimos ao estarmos vivos é que a qualquer hora podemos morrer. Se Marcus não tivesse morrido da maneira como aconteceu, poderia ter acontecido de maneira muito menos significativa, um gole errado um tropeço, mesmo um ataque cardiaco ou derrame cerebral podem causar mortes menos relevantes ou grandiosas, encerrando vidas inteiras por causa de erros tolos. O interessante é que os seres humanos tomam o amanhã como dado, como se o próximo amanhecer fosse um direito de cada ser vivo, como se todos que conhecemos fossem imortais e que sempre teremos mais um amanhã para lidarmos com as pessoas que nos são importantes. E a realidade nos lembra todos os dias que os caminhos não são bem esses. A vida é um diamante: preciosa e frágil
“E se tolos são os que pensam que o amanhã sempre virá, mais tolos ainda são os que tentam fazer por onde assim seja. Buscando a imortalidade, de si próprios ou de todos. Pois esquecem que a vida não é um mar de rosas, que para sempre é, e sempre será, muito tempo. Ao invés de viver cada dia intensamente buscam maneiras engenhosas de prolongar suas vidas, para aplacarem o primordial medo da morte. Uma tolice, de fato”
“Sinceramente acho que as pessoas deviam se preocupar mais em como morrer (E antes disso em como viver), do que com a morte propriamente dita. Cada dia pode ser nosso ultimo, e se o povo percebesse Isso,  as vidas de todos teriam um pouco mais de significado. Pelo menos era nisso que acreditávamos, Marcus e eu. Foi assim que ele viveu, foi assim que ele morreu e é assim que eu vivo”.
Adam sentiu-se envergonhado. E disse em tom de desculpa.
-Não é a toa que meu tio pediu que você fosse o orador. Sua maneira de pensar é... Diferente, e suas palavras... Bem, nem sei o que dizer... Sinto-me envergonhado de minha raiva.
Isso trouxe de volta o sorriso do velho
-Não fique, do seu ponto de vista era natural sentir tristeza e raiva contra a minha pessoa, não me ofendeu e demonstrou que você se importava com ele- E de repente Anthony ficou pensativo- Mas Marcus nunca me falou de irmãos ou de um sobrinho.
-Isso é porquê eu não sou, pelo menos não por laços sanguíneos. Mas teve um episódio de minha juventude em que tive que me passar por tal e ele e meu pai são amigos de infância. Meu pai nunca me contou os detalhes, se recusou até a comparecer aqui... De qualquer forma desde o incidente tenho... Quer dizer, tinha o hábito de chamá-lo assim- ele mostrou um sorriso sem graça e olhou em direção à mulher em prantos, seu sorriso se desmanchou tão rápido quanto veio e a sensação de pena apoderou-se dele- Mas eu também não sabia que ele tinha se casado.
Anthony olhou a mulher também, seu olhar ficou um pouco distante, imerso em uma outra época. E tão rápido quanto entrou ele saiu do devaneio, assustando Adam. Isso o fez sorrir.
- Marcus preferia manter sua vida pessoal somente entre ele e os... Amigos da mesma esfera de trabalho, se é que você me entende, senhor...?
-Albarn, Adam Albarn. Pois é acho que esqueci de me apresentar
A expressão de Tony ficou séria, agora ele olhava para Adam como se finalmente tivesse se apercebido de com quem estava conversando, coisa que só durou alguns segundos, então sua expressão voltou a suavizar-se
-Então você é Adam! Eu bem que desconfiei, mas pelo que Marcus me disse, você me pareceu mais...- Anthony deu de ombros- velho.
-Bem, eu não me consideraria tão novo assim. 27 anos já é um bom tempo de vivência. O suficiente para conhecer um pouquinho da vida, pelo menos. Diga, a esposa dele também era da... “mesma esfera de trabalho”?
Anthony sorriu.
-Você é mais perspicaz do que Marcus o fez parecer- disse alisando o bigode- Sim, e ainda é. Ela e Marc trabalharam algumas vezes juntos. E em nosso ambiente de trabalho, quando se trabalha com uma parceira como a senhora Devian, é difícil não se envolver emocionalmente. Bem, uma coisa levou à outra até que quando me dei conta os dois já estavam casados. Eram um belo casal na época, me faziam lembrar de como era ser jovem e ousado. Nunca tiveram filhos, não que eu saiba- Ele olhou seu relógio de pulso- Bem, já está na hora de enterrá-lo. Se importaria de acompanhar um velho neste momento tão sombrio?
-Não mesmo- respondeu Adam prontamente.
E ambos se dirigiram para a saída, cruzando com o arcebispo, que se aproximava do caixão (provavelmente para despedir-se ou avisar os encarregados para iniciar o transporte do cadáver até sua ultima morada), com a senhora Devian e seus parentes e foram até o grande arco da entrada da catedral. Durante o trajeto Adam percebeu mais uma presença dentro do antro já quase totalmente vazio.
A pessoa em questão era uma velha senhora de vestes negras, feições típicas dos bem vividos, sembrante sereno e olhar compenetrado no vazio. Estava sentada num dos últimos bancos da nave. Vendo-a assim sozinha Adam sentiu pena da solidão da pobre senhora, tendo que enfrentar sozinha esse âmbito triste e pesaroso. Mas então, enquanto se aproximavam, a senhora pareceu sair de seu transe e observou enquanto a dupla percorria seu trajeto. Ao ver-se observada ela deu a Adam um simpático sorriso. Ele, constrangido, se limitou a um breve aceno com a mão. Anthony parecia indiferente ao que se passava, seus elétricos olhos azuis vislumbravam a chuva e mistérios que estavam além da compreensão de Adam.
Assim que passaram pelos bancos onde ela estava sentada, Adam teve a ligeira impressão que ela flutuava levemente sobre seu acento e seus pés estavam invisíveis ao jovem. Ele esfregou os olhos e observou-a novamente. Estava ela confortavelmente recostada sobre o banco e seus pequenos sapatinhos negros combinavam com o vestido.
“O cansaço prega muitas peças nos desavisados” pensou Adam. Por fim, eles chegaram à saída.