domingo, 7 de outubro de 2012

Reinos Modernos (Parte 5)

Segue o 5º capítulo de Reinos Modernos. Ok, tudo bom, ótimo até, mas esse é um dos capítulos mais... Dark ou cruéis da saga até agora. Sinceramente: Não sei o que pensar dele. Por vezes acho que o público o achará muito "pesado", por outras acho que não se importarão. E eu não pude, como ainda não posso removê-lo. Por que o restante da história será impulsionada por esse único e singelo capítulo (até parece... Ok, a maior parte dela, pelo menos).

Ah, mais uma vez (como de praxe) peço perdão pelos erros gramaticais/ sintáticos presentes no texto (não tenho um corretor/ revisor/ editor apropriado para esse tipo de trabalho feito por um fan de.. Ficção Moderna[? Seja lá como chamem o gênero] cujo único objetivo é entreter meus queridos leitores [Sério, se eu não estivesse publicando essa obra semanalmente, provavelmente eu já teria abandonado o projeto. E não importa quão pouco sejam meus leitores. Enquanto existir pelo menos uma pessoa lendo e curtindo essa história, eu continuarei publicando-a])

Então, é com bastante receio e expectativa, que lhes apresento:

Capítulo 5


A porta do pequeno apartamento foi aberta e fechada brevemente. Adam entrou em sua confortável morada. O silêncio prevaleceria não fosse o som da chuva, que intensificava-se, e os barulhos do mundo externo. Analisando brevemente a situação, Adam concluiu que tinha todos os cômodos só para si. Então não perdeu tempo e foi para a cozinha onde bebeu lentamente dois copos d’água. Após o feito, ele percebeu um bilhete preso à porta da geladeira. Ele aproximou-se e cuidadosamente o retirou. Nele estava escrito:

Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.

C.

(Fui para a casa dos meus pais.
Sei que você está passando por muita coisa agora
e precisará de um ombro amigo em breve,
mas por ora achei melhor que você tivesse algum
espaço para lidar melhor com isso tudo.

Quando precisar é só ligar, gato.)


Um sorriso brotou no rosto dele. Adam ficou algum tempo admirando aquele monograma que, com uma simples curva misturava um “C” com um “L” e pegou-se pensando na pessoa a quem ele pertencia. Um calor o invadiu juntamente com sentimentos de ternura e desejo... Pensar nela causava essa sensação reconfortante e segura da paixão.
Era impressionante como se sentia o homem mais feliz do mundo e um tolo completo perto dela, como era capaz de lhe confessar isso e ser reconfortado com seus sorrisos. Desconcertante. A  paixão é, de fato, algo desconcertante.
Ele pensou em ligar para ela, mas o cansaço falou mais alto. Ele precisava relaxar, dormir um pouco, para só então tentar curar suas feridas e desfrutar de sua boa companhia.
Adam seguiu pelo pequeno corredor, passando pelo quarto de hóspedes e chegando finalmente ao extremo oposto à sala, que era onde ficava a entrada para o seu próprio quarto.
A espaçosa cama estava arrumada, as pastas e documentos estavam organizadas da melhor maneira possível na forma de pilhas ao lado do laptop e sobre a escrivaninha, A planta na qual estava trabalhando fora enrolada e guardada dentro do tubo, que estava escorado entre a escrivaninha e a cadeira. Não havia as roupas costumeiras jogadas por cima da cadeira de escritório. O quarto estava mais bem ordenado que de costume. E isso mais que qualquer outra coisa trouxe uma sensação de contentamento a Adam.
“Ela também está se esforçando... E por mim... Obrigado... De verdade”. Pensou de maneira embargada.
Mas logo ele tirou o blazer e jogou-o sobre a cadeira, desabotoou a camisa e a atirou sobre o blazer. Tirou os sapatos e posicionou-os ao lado da cama. E logo deitou-se somente com sua calça social negra.
O cansaço e o pesar cobraram seu preço, seus olhos pesaram imediatamente, quase como se sua mente lhe sussurrasse suavemente.
“vá dormir...” ou “Descanse. Em. Paz...”
Adam Não resistiu e se entregou ao sono.

Quando acordou, em alguma hora da noite, Adam se sentiu descansado, mas confuso. Lembrava vagamente de seu sonho, mas quanto mais tentava lembrar mais a memória parecia lhe escapar por entre os dedos, como é o comum da maioria dos sonhos. Mas a mente dele ainda resgatava essa pequeno e indistinto fragmento: um vermelho intenso...
Um trovão ribombou e a primeira coisa que Adam viu depois de acordar fez seu coração parar, seu sangue gelar, todos os seus músculos tensionaram e sua mente, devido ao choque, ou talvez à similaridade foi lançada à alguns anos no passado, quando leu, pela primeira vez em muito tempo, uma revistinha do Batman.
Estava a sair pela janela que ficava pouco depois do fim da cama um vulto, aparentemente de estatura mediana. Outro trovão ribombou e por uma fração de segundo Adam viu um par de olhos sem pálpebras, brancos com pupilas dilatadas e uma boca cortada em um macabro e eterno sorriso, uma face pálida como leite.
O intruso levou lentamente o punho direito à boca fazendo um gesto que pedia silêncio, sussurrou um suave “volte a dormir” e pulou pela janela. No feito Adam viu reluzir o reflexo da luz de um poste da rua em um pedaço de metal que o ser macabro carregava.
Mas...” Pensou abobalhado “Eu moro no décimo andar...”
Ainda assustado, o coração quase saindo pela boca e ressoando em seus ouvidos, Adam passou um tempo parado, imóvel, petrificado. As palavras ainda pairando pelo recinto como uma nuvem nefasta. A chuva transformara-se em tempestade no meio tempo de seu sono.
Uma trovoada o tirou de seu choque, uma sensação de descarga elétrica perpassou por todo seu corpo. Rápida e silenciosamente Adam saiu de sua cama e entrou no corredor. A escuridão dentro do apartamento era desconfortável, mas Adam não queria se arriscar com um outro possível intruso. Agachou-se no ponto onde o corredor encontrava-se com a sala e ficou a espreita de qualquer barulho suspeito.
Adam não saberia dizer quanto tempo passou naquela exata posição, talvez alguns minutos, talvez até mesmo uma hora. Mas não escutou absolutamente nada além da tempestade e suas trovoadas.
Quando se deu por satisfeito continuou a andar silenciosamente pela sala até o interruptor que havia próximo à entrada. Ele pisou de leve com seus pés descalços e estranhou alguns pontos molhados no chão, provavelmente a janela deveria ter ficado aberta... Embora Adam estivesse convicto de que ela estava fechada quando entrou no apartamento e ainda agora, através da fraca iluminação externa, ela ainda parecia fechada... Talvez o intruso tenha causado essas poças quando entrou... De qualquer forma, ele tomou cuidado extra para não escorregar. Havia um cheiro estranho no ar, algo como... Ferrugem, muita ferrugem. algo definitivamente estava errado.
Ao chegar no seu destino, e depois de tatear um pouco, o interruptor foi acionado.
Infelizmente. Pois se o interruptor estivesse quebrado ou se a energia tivesse falhado... Talvez... Só talvez, as coisas pudessem ter sido diferentes. Porém...
...Aquela visão ficou gravada como ferro ardente no fundo de suas retinas e evocava os seus sonhos mais macabros. Como o que tivera agora a pouco.
A sala estava vermelha, com poças do rubro líquido aqui e ali, as paredes e o piso e as janelas tinham marcas de mãos e pegadas. Todos os móveis, a mesa, mesa de centro, sofá, televisão, tudo estava manchado. até mesmo a luz estava levemente respingada pela cor carmesim. Assustado, Adam olhou-se rapidamente e percebeu que não havia nada de errado com seu corpo, nenhum arranhão, marca ou dor que indicassem que algum mal lhe havia sido feito.
Algo estalou na mente de Adam. Uma sensação de irrealidade, onirismo. Como se sua razão lutasse contra a percepção de seus sentidos. Como se ele lutasse para tentar acreditar que tudo não passava de um sonho.
O choque foi maior ao ver o desenho.
Havia, na parede que dava para o corredor, um conjunto de três traços, um longo e dois curtos, interceptando-se em um ponto, formando uma rubra seta, que apontava corredor adentro.
Adam receiosamente foi andando, chegou na entrada do corredor e acendeu a luz. O lugar não estava tão manchado como a sala, mas havia algumas pegadas e respingos descuidados. Ele foi seguindo pelo corredor silenciosamente. Chegou, por fim, em frente ao quarto de hóspedes, onde ao redor do umbral várias setas rubras o convidavam a entrar no recinto. E, temendo o que quer que pudesse estar aguardando-o, ele agarrou a maçaneta e entrou.
A condição do quarto era estranhamente repulsiva. A sua maior parte estava tingida naquele líquido, salvo uma falha ou outra no chão e na parede que revelavam o quão às pressas o “serviço” havia sido feito. Mas ao olhar para o teto, o coração de Adam o apertou com força, e ele passou alguns momentos lutando contra um desespero insuportável.
Havia um circulo muito mal feito ao redor da lâmpada que estava intocado pelo tingimento, mas nele estava escrito de maneira circular, quase formando uma espiral, as frases:

Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes.

(Agora as vidas de todos eles
permeiam suas paredes)

Mas nao se preocupe e nao se esqueça:
Aquilo que está morto nao pode morrer
Apenas reerguer-se, mais forte e resistente

(Mas não se preocupe e não se esqueça:
Aquilo que está morto não pode morrer
Apenas reerguer-se mais forte e resistente)

Um temor e milhares de questões começaram a fervilhar na mente de Adam, ele andou ainda pasmo, quase que inconscientemente de volta para seu quarto. Fechou a porta atrás de si e ficou a observar de maneira vazia sua cama, a janela aberta e as poças d’água que se formavam no chão.
Sua mente estalou novamente, um pensamento começou a formar-se, uma percepção tenebrosa. Adam sentiu os olhos começarem a se arregalarem. Seu estômago começou a embrulhar. Mais um trovão ribombou e ele, com o canto do olho, percebeu alguma coisa desenhada na parede que estava oposta a janela, mas não havia tempo. Correu o mais rápido que pode para o banheiro da suíte, virou-se para a privada e, quase que instantaneamente, vomitou.
“Ele podia ter me matado a qualquer momento...” Outra golfada. “Eu podia estar morto!” Adam respirou profundamente, limpou um pouco a boca com papel higiênico, sentindo a garganta queimar. O estômago vazio o lembrava que ele não havia comido nada quando chegara. Agora ele estava fraco, desanimado e totalmente apavorado.
“Eu poderia estar morto...”
Não era exatamente uma das melhores situações, mas Adam sabia que pior que aquilo não podia existir. E foi pensando assim, em sua sorte por estar vivo, que ele se levantou e respirou fundo. Não conseguiu se acalmar, mas recuperou o controle do próprio corpo e sua tremedeira começou a ceder. Nesse estado voltou ao seu quarto e ligou a luz.
Foi nesse exato momento que Adam Albarn descobriu uma lição que levaria pelo resto da vida: Qualquer situação, não importa qual seja, o quão ruim seja, sempre pode piorar. E junto com essa lição veio a amargura que viria a permear seu espírito pelo resto de sua existência.
Na parede estava desenhado um único e simples símbolo, capaz de arrasar Adam ainda mais que as palavras escritas a sangue no teto do quarto de hóspedes. Por que ele sabia o que aquele simbolo significava, mas não exatamente. Na parede, do roda-pé até o teto via-se indubitavelmente o desenho:

C.

Disso Adam saiu em disparada, seu destino: A cozinha. Chagando lá ele achou o bilhete preso novamente à geladeira (mas Adam o havia deixado sobre a mesa de jantar...). E no verso do bilhete, com o mesmo tom de brilhante vermelho, Adam leu:

Nem se preocupe,
Cuidaremos muito, muito bem dela

A reação imediata foi o telefonema. “Se eu me desesperar agora, estarei perdido...” Uma ligação perdida. Duas... Três... Adam começou a entrar em pânico. “Calma... Se eu me desesperar agora, ELA estará perdida.” Tentou o telefone dos pais dela. A linha não deu dois toques antes de uma voz grave, com um leve sotaque francês respondesse do outro lado.
-Alô?
“Isso!” Pensou. “Ainda há esperança! Com certeza o bilhete é só um blefe...”
-Sr. Lenoir...- Adam disse em um tom temeroso.
-Sim, quem serria? Sabe que horras são?
-Sei, sim, Mas é importante! Quem fala é Adam, o noivo de Caroline, sua filha.
Houve um silêncio do outro lado da linha. Algo estava errado. E pelo que pareceu uma pequena eternidade, a linha continuou muda.
-Que piada de mau gosto é essa?- A voz do senhor estava transtornada.
-O que você quer dizer? não há piada alguma!
-Não é possible.
-O que você quer dizer, senhor? A Caroline não está?- Disse suavemente, tentando esconder o melhor possível seu temor. E ainda assim, ele estava incrédulo, como o pai de sua noiva não o reconhecia?! Havia algo extremamente errado em tudo isso.
-Caroline... Minha doce Caroline...- A voz dele começou a embargar- ma douce fille... Morreu aos sete anos com uma... Aneméie...Não, anemia aguda... De causas desconhecidas...- Cada palavra soou como se ele estivesse fazendo um esforço colossal para pronunciá-las- Então se puderes me dizer do que se trata tudo isso...
Adam já não mais escutava o que o pai de sua noiva falava... Não havia mais sentido nisso.
"Calma, se eu me desesperar agora... Se eu me desesperar agora..."
De fato, não importa o quão ruim as coisas possam parecer...
"... Será meu fim!"
...Elas sempre podem piorar.

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