domingo, 14 de outubro de 2012

Reinos Modernos (parte VI)

Ok, segue o 6º capítulo de reinos modernos. Não tenho muito mais a declarar  (E eu sei que vocês gostam dos meus comentários pré-capítulo. Vamos, admitam!).

Ah, eis uma pequena informação interessante extra: A maioria dos seres sobrenaturais que aparecem (e aparecerão) não são de minha criação (ou autoria). Eles são frutos de lendas urbanas que encontrei pela Net. Pesquisei elas no intuito de conseguir material para o escrito e... Elas realmente me assustaram! yup, e bastou apenas isso para incluí-las de maneira adequada no enredo. (Para os corajosos ou estúpidos que estiverem interessados nas fontes originais, pesquisem no google: Creepy Pasta [Warning: Esses troços me assustaram... Muito... Muito MESMO... Então, é, eu não recomendaria fuçar muito dentro do assunto...]. E nesse capítulo haverá uma breve aparição da Creepy Pasta mais famosa ultimamente... Dica: "Não olhem para trás").

Mais uma vez, peço perdão pelos agravadores erros gramaticais/Sintáticos... Seriously, acho que todo bem/maldito capítulo eu vou me desculpar por esses erros... Então... Better get used to it.

Sem mais delongas... É com orgulho (ou não) que lhes apresento:

Capítulo 6


O dia raiou ainda nublado. Um leve chuviscar cobria as casas e ruas. Anthony olhou pela janela do armário de vassouras, que chamava carinhosamente de escritório, durante algum tempo. Pessoas andavam de um lado para o outro, transitavam com seus guarda-chuvas e casacos, compravam as edições ainda secas do jornal do dia na banquinha que ficava próxima.
Eram essas pequenas coisinhas do cotidiano que mantinham o senhor Morty na ativa. Eram elas o gás e a gasolina de suas ações. “Pax eterna” penou ele suavemente “alguém tem que mantê-la...”.
Então consultou rapidamente seu relógio de pulso e virou-se para dentro do gabinete. A luz acinzentada do dia iluminava perfeitamente a escrivaninha de mogno, as poltronas e estantes abarrotadas de livros e pastas. Não era o ambiente de trabalho perfeito, mas era funcional e trazia todo o conforto que aqueles ossos velhos e seu dono precisavam para suportar cada interminável dia.
Ao olhar os arquivos jogados sobre a escrivaninha por ele mesmo mais cedo, seu rosto se contraiu numa expressão pesarosa. Memórias do telefonema que recebera vieram a sua mente e ele suspirou.
Não tivemos nem tempo de nos recuperarmos da sua ida, que seu legado já entrou em cena para nos assombrar... E eu já devia ter conhecimento disso...” Pensou ele enquanto abria cada arquivo para certificá-se, mais uma vez, de seu conteúdo.
Peças e peças do grande esquema das coisas... Mas como elas se encaixam?... Certamente muitas forças entraram em cena de uma só vez. Elas foram empregadas com muito cuidado e de maneira finamente calculada, sem dúvida... Mas... Com que finalidade? O que se passa por trás de sua cabeça, se é que se pode dizer que você tem uma... Conde...? Se ao menos eu pudesse me lembrar...”
Um bater leve na porta o pegou desprevenido. Anthony voltou a fechar os arquivos e sentou-se em sua poltrona, de costas para a janela, buscando uma posição confortável. Quando a achou, anunciou com sua potente voz eloquente:
-Por favor, entre. Está aberta.
Com um leve clique a maçaneta virou e por de trás da porta saiu um rosto familiar, apesar de que ambos só se conheceram no dia anterior.
Dessa vez, ao invés do terno sombrio, ele usava um jeans claro, camisa negra por baixo de uma jaqueta branca e carregava debaixo de um dos braços algo que parecia ser uma caixa de sapatos velha, no outro o guarda-chuva estava pendurado da mesma maneira que no dia anterior.
O jovem Adam Albarn fechou a porta por trás de si e cumprimentou Anthony sem qualquer vivacidade. Seu olhar era vazio, seu estado de espírito, Morty sentiu, era o de alguém devastado, sem esperança. Vendo aquilo ele compreendeu.
Uma casca vazia... O pobre coitado parece que acabou de morrer por dentro... Então essa era sua pretensão...” O fluxo de pensamentos continuava, enquanto Adam tomava pesarosamente uma das poltronas do outro lado da escrivaninha para si “Não... Não se trata apenas disso... Há algo mais... O rapaz lhe é perigoso, isso está claro. Mas porquê?... Não consigo me lembrar... Maldição!” Ele percebeu que Adam o encarava como se quisesse dizer algo ao mesmo tempo que não queria interrompê-lo. Anthony achou, por bem, que deveria quebrar o gelo.
-Estou grato por ter atendido ao meu pedido.
-Tem sido... Difícil, realmente... Depois do que aconteceu com Carol... E que todas aquelas manchas nas minhas paredes sumiram do nada...- falava com dificuldade, como se escolhesse as palavras mais apropriadas conforme ia organizando os pensamentos- Foi puro acaso eu ter achado seu telefone... E sinceramente eu não sei o que fazer! Tinha até mesmo minhas dúvidas se o senhor não me acharia um louco!- concluiu desesperadamente.
Anthony apenas meneou a cabeça levemente. Aquela era a sua área de especialização. E casos como aquele tendiam a ocorrer com mais frequência do que gostaria (se bem que o que ele gostaria mesmo era que coisas assim nunca acontecessem), claro que, em geral, a situação a principio não começava com aquele grau de drasticidade. Logo ele abriu um sorriso e disse.
-Se eu te contasse as coisas mais extremas que já vi, rapaz... Acho que quem seria chamado de louco aqui seria eu.
-Não que eu duvide, mas acho que o senhor disse isso mais na intenção de me animar do que me informar... e fico feliz com isso, mas o que eu preciso agora é de respostas. Preciso saber o que aconteceu exatamente ou... Deus, Eu acho que vou enlouquecer!
Acho que é tarde demais para isso, parceiro”. Anthony suspirou.
-Eu acho que posso te dar algumas respostas- Por um momento, os olhos de seu interlocutor brilharam- Mas eu preciso de mais informação. Pelo que você me contou pelo telefone, eu consegui levantar algumas hipóteses, mas não é nada conclusivo. E...- Anthony propositadamente hesitou. Agora vinha a parte difícil- é provável que que tudo que eu diga seja rejeitado por você- Deu de ombros- provavelmente você vai me achar um doido varrido, irá se enfurecer e sair por aquela porta com uma ira cega contra mim por, no mínimo, dizer algo que mais parecerá uma piada de mau gosto- Uma pausa- Mas só posso dizer o que eu acho e o que está nos domínios de meu conhecimento. E convencê-lo de que estou falando sério não será fácil.
Adam ficou calado por um tempo. Meditando sobre o assunto, e a cada momento um pouco de vida parecia voltar aos seus olhos, como que se a ponderação o distraísse dos evento que ocorreram. Por fim ele sorriu um sorriso amargo.
-Sei qual é a sensação. Acho que era mais ou menos isso que eu esperava ouvir de você quando te liguei mais cedo. Mas, venhamos e convenhamos, não tenho mais nada a perder. Estou disposto a escutá-lo e a depositar minha fé em suas hipóteses por mais mirabolantes que sejam.
“O senhor disse que precisava de mais informações, então irei narrar tudo o que se passou  desde que cheguei em casa, está bom assim?”
Anthony, parou para pensar um pouco e logo disse:
-Espere, foi a partir do momento em que você chegou em sua casa que esses... “fenômenos estranhos” começaram a acontecer?
-Foi... Não, espere, tiveram momentos no funeral que...Estranhei. Achei que fosse o cansaço, mas posso narrá-los também se não for nenhum problema.
-Isso seria ótimo.
E assim Adam narrou sobre seu estranho sonho, onde fora jogado dentro do caixão escuro, sobre a velhinha flutuante, sobre como viu seu interlocutor encarar de maneira incomodada o excêntrico de cartola e a senhora, sua casa, o bilhete na geladeira, o assaltante que lembrava o Coringa sem pálpebras, o sangue e as mensagens nas paredes e no teto, sobre como sua noiva supostamente morrera aos 7 anos de vida...
-Fiquei arrasado- Admitiu- Não quis acreditar nas palavras do senhor Lenoir. Mas o pesar e a dor que senti na voz dele ao me falar sobre a sua filha... Eu não podia acreditar que ele mentiria dessa maneira, até por que se fosse qualquer outro problema ele seria franco comigo e não teria dito algo tão surreal quanto... isso- Adam hesitou- Acho... De qualquer forma, fiquei desesperado. Fui meio que cambaleando até o telefone da cozinha para ligar para a polícia, por causa do sangue nas paredes. E enquanto discava, olhei de relance para a sala... E o sangue havia sumido. Tudo havia voltado ao normal. E por um momento achei que ainda estava sonhando. Cheguei a me beliscar diversas vezes para ver se acordava- Ele arregaçou a manga direita e mostrou os pequenos sinais vermelhos no seu braço- Cheguei a sentir esperança novamente...- A voz dele simplesmente sumiu por uma fração de segundo- Foi então que percebi que ainda segurava isso daqui.
Adam tirou do bolço do casaco um pequeno quadrado de papel, onde em um verso havia um recado com uma caligrafia feminina. No outro uma ameaça velada escrita em vermelho.
-Foi a partir daí que cheguei a conclusão que nem tudo havia sido um delírio... Ou nada, talvez... A situação era... É surreal demais. Não quis me arriscar à ligar para o pai dela novamente, temendo magoar ainda mais aquela ferida. Tentei o telefone dela mais uma vez, mas apenas recebi a mensagem de que eu liguei para o número errado ou o número não existia...- Ele respirou fundo e continuou- Dá pra imaginar meu desespero a partir daí. Fui para o quarto e sentei na cama tentando imaginar o que eu faria a partir daquele momento...Não sei quanto tempo passei sentado devaneando, sem ter nada realmente coerente na minha cabeça... E meio que do nada eu lembrei de uma frase: “Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar”. A partir daí o senhor já sabe o resto da história.
Anthony continuou pensativo. Ainda haviam lacunas demais. Tinha que ter mais alguma coisa.
-E isso foi tudo? A partir daquele momento não ocorreu absolutamente mais nada de... Entranho? Não importa o grau. Mesmo um leve incômodo que seja. Aconteceu mais alguma coisa?
Adam ficou calado por algum tempo, provavelmente analisando, que tipos de evento poderiam cair na categoria: “Fora do comum”. E então a expressão dele adquiriu feições de pertubação, como se tivesse acabado de lembrar de algo realmente perturbador.
“Bingo!”
-A gora que o senhor mencionou... Quando eu estava prestes a sair de casa, depois de ter ligado e dizer que eu não poderia comparecer no escritório pela manhã... Senti que estava sendo observado. Haviam olhos em algum lugar me observando... Pra não levantar suspeitas, eu olhei discretamente ao meu redor, mas não vi nada. Pelo caminho, enquanto dirigia, vez por outra pensei ter visto...- Adam hesitou mais uma vez- ah, esquece. Provavelmente eu estava andando rápido de mais.
“Curioso, muito curioso” Pensou Anthony Morty.
-Você conseguiu se abrir comigo a ponto de revelar coisas que pareceriam lunáticas a quase qualquer pessoa que as ouvisse, Adam. Então por que, nesse exato, momento você descarta algo que apenas lhe parece suspeito ou estranho? Isso pode, como você mesmo teorizou, não passar de um engano. Mas pode ser algo relevante...
Adam começou a hesitar em falar a quase todo momento.
-Não é como se eu quisesse fazê-lo... Mas só de pensar que o que possa ter visto fosse real... Sinto... Medo. Não aquele que você sente quando assiste a um filme de terror ou o que você sente quando vê no noticiário uma noticia de uma tragédia na vizinhança... Na verdade, é quase parecido com o medo que senti assim que eu acordei e vi... Aquele... Palhaço sorridente...
Anthony olhou-o demoradamente. O sinais estavam claros.
Adam estava apavorado, verdadeiramente apavorado.
- O que você achou que viu, Adam?
-As crianças... Haviam crianças no meu caminho pra cá... Estavam sozinhas... Ou em duplas... No banco das praças... Em becos...- Ele começou a soluçar. Seus olhos encaravam o vazio
As possibilidades começaram a ser eliminadas o caminho daquele mistério estava ficando cada vez mais claro para Anthony. Agora vinha a ultima pergunta. Ela mostraria o quão problemática era a situação do jovem Albarn... “Isto é, se ele ainda puder me dar mais este detalhe...”
-Ok, Adam. Só mais essa pergunta e começarei a lhe explicar o que eu realmente acho que aconteceu... Não quero pressioná-lo mais do que devo. Então, se for demais para você, poderia me dizer qual era o problema das crianças?
Adam olhou-o demoradamente. Estava evidente que ele queria parar, mas se esforçava para dar aquela ultima informação.
- Senhor Morty... As crianças... Os olhos delas... Os olhos... Eles... Eles...- O jovem começava a tremer.
“Vamos, Adam, só mais essa informação para resolvermos isso logo de uma vez. Faça só mais esse esforço...”
-Sim, o que tinha os olhos delas?
-Pareciam que eram... Negros... Totalmente negros, sem a parte branca ou a íris
Anthony ficou pasmo. “Droga! Como pude ser tão ignorante. Estava tudo exatamente diante de mim”
-Esculte, Adam, você não está em condições de aguentar mais nada. Vamos dar um tempo. Quando você se acalmar...
Adam de repente ficou pálido. Ele levantou a mão e lentamente apontou. A princípio, Anthony achou que teria sido para si próprio, que seguido daquela indicação haveria um ataque histérico sobre como seu interlocutor não poderia esperar mais um minuto se quer. Então o indicador virou levemente apontando para a janela. Os olhos de Adam ficaram esbugalhados. Anthony se virou em sua poltrona para ver... E escutou um baque atrás de si, mas ele não ousou olhar para a fonte do barulho, não, pois contra a janela, por um breve momento, existiu uma figura estranha. Sua cabeça era pálida, não havia rosto, apenas uma mera sugestão. Era um ser longo, alto, esguio... E parecia estar usando um terno. Uma brisa soprou as árvores próximas e a aparição se desfez tão rápido quanto se fez.
Anthony estava incrédulo. “Deuses... Isso é... Não consigo nem exprimir palavras... O pior cenário que previ...” Ele se virou lentamente...
... E viu Adam desmaiado sobre a poltrona, seu rosto  contorcido em uma expressão que só poderia indicar pesadelos e pertubações.
“... Nem se compara às forças que agora cercam esse rapaz...”

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