(E já aproveitando para pedir perdão por qualquer erro gramatical ou sintáxico que eu possa ter cometido)
ok, aqui vai nada:
Capítulo 3:
Foi
com um solavanco que Adam acordou. Suava frio, suas roupas estavam encharcadas
e ele tremia levemente. E qual não foi sua surpresa e constrangimento ao
perceber que dormira sentado durante o fúnebre velório do pobre Marcus. Após
olhar ao redor e se desculpar utilizando pequenos gesto com a senhora que
levou um susto ao seu lado, Adam viu que ainda chovia, Anthony ainda discursava
e o burburinho continuava. Nunca antes se sentira tão aliviado em toda a sua
vida e sua realidade nunca antes lhe transmitiu tamanha sensação de segurança.
E ainda assim o sonho o havia perturbado, parecera real demais e com detalhes
demais. Ele tentou esquecer isso e se concentrar no que estava sendo dito, mas
quanto mais tentava esquecer o pânico e a sensação de terror, mais nítida
vinha-lhe à mente a imagem decrépita daquele singular olho verde.
A
cerimônia seguiu para a próxima etapa. Os convidados começaram a tirar seus
guarda-chuvas e se dirigir ao cemitério. Aos poucos a nave foi se esvaziando
até que permaneceram somente a esposa e seus familiares mais próximos, os
transeuntes, que voltaram a esperar que a chuva passasse na saída da Catedral,
Anthony, o arcebispo e Adam.
O
jovem se dirigiu ao altar, passando pela mulher que estava sendo amparada
presumivelmente pelas irmãs e pais, e chegando até a beirada do caixão. Ele
olhou desconfiado para o homem de branco e ficou muito aliviado ao ver que
ambos os olhos dele eram de tom azul elétrico. Ele então olhou para dentro do
caixão.
E
lá estava Marcus. Seus cabelos marrons, já com alguns fios grisalhos, que
originalmente eram rebeldes foram tratados com gel e outros produtos para
ficarem impecavelmente penteados, seus olhos estavam fechados, sua feição era
suave, com se estivesse dormindo e seus lábios apenas sugeriam um sorriso, como
que se segurando para não estragar a piada.
Isso
fez Adam esboçar um sorriso, e deixar algumas lágrimas rolarem. Pelo menos
aquelo corpo dentro de um terninho de terceira parecia...
(Descanse. Em. Paz...)
...Sereno.
Isso de certa forma confortava Adam, ainda que nunca mais fosse falar com o
tio, pelo menos ele sabia que agora ele estava em paz...
-É
realmente uma pena o que aconteceu com ele. Preferia que fosse de outra forma.
Acho que se fosse, o pobre infeliz teria ainda mais alguns anos.
A
voz que vinha de trás dele só poderia pertencer ao sujeito de branco, Anthony. E
mesmo assim, ou por causa disso, Adam não pode evitar o calafrio e um pequeno
espasmo de susto. Ao perceber a surpresa do rapaz, o senhor retorceu o canto do
lábio no que poderia ser um pequeno sorriso, não fosse o bigode. Adam voltou a
olhar o corpo do amigo.
-E
eu estava com ele justamente um dia antes de...-Sua voz começava a embargar-
Deus! Ele parecia tão bem... Tão... Vivo! O que raios poderia ter causado...
causado... Isso...?
Adam
fazia força para conter as lágrimas, uma mão ossuda pousou levemente em seu
ombro.
-Não
posso lhe dar os detalhes, mas posso lhe garantir que este homem morreu
acreditando estar fazendo o que era certo, pelo bem dos seus ideais.
-Grande
bem isso lhe fez...- Havia amargura na voz de Adam- Espere... Quer dizer que-
ele virou-se para encarar o velho novamente- você estava presente quando...
Adam
não conseguiu terminar. Anthony se limitou a abanar a cabeça.
-E
impotente para evitar que acontecesse, para o pesar de todos. O fato ainda me
pesa. E muito.
-Quer
dizer que a culpa é sua?! Por sua causa ele...
-Morreu.
Sim e não. Posso admitir parte da culpa, ou toda ela, mas não posso mudar esse
fato. Marcus está morto e o responsável está... Bem, não saberia dizer nada
quanto ao responsável, o verdadeiro pelo menos.
- O
que você quer dizer com isso?
-Não
posso te falar, sigilo do trabalho e ossos do oficio. Eu te garanto que o
trabalho dele não era livre de perigos, sim. Porém...
-O
quê?!- havia um tom de desafio por trás de sua voz.
-Meu
caro- Anthony adquiriu uma postura séria- Não ouvistes o que passei quase meia
hora explicando?! Um dos riscos que cada um de nós assumimos ao estarmos vivos
é que a qualquer hora podemos morrer. Se Marcus não tivesse morrido da maneira
como aconteceu, poderia ter acontecido de maneira muito menos significativa, um
gole errado um tropeço, mesmo um ataque cardiaco ou derrame cerebral podem
causar mortes menos relevantes ou grandiosas, encerrando vidas inteiras por
causa de erros tolos. O interessante é que os seres humanos tomam o amanhã como
dado, como se o próximo amanhecer fosse um direito de cada ser vivo, como se
todos que conhecemos fossem imortais e que sempre teremos mais um amanhã para
lidarmos com as pessoas que nos são importantes. E a realidade nos lembra todos
os dias que os caminhos não são bem esses. A vida é um diamante: preciosa e
frágil
“E
se tolos são os que pensam que o amanhã sempre virá, mais tolos ainda são os
que tentam fazer por onde assim seja. Buscando a imortalidade, de si próprios
ou de todos. Pois esquecem que a vida não é um mar de rosas, que para sempre é,
e sempre será, muito tempo. Ao invés de viver cada dia intensamente buscam
maneiras engenhosas de prolongar suas vidas, para aplacarem o primordial medo
da morte. Uma tolice, de fato”
“Sinceramente
acho que as pessoas deviam se preocupar mais em como morrer (E antes disso em
como viver), do que com a morte propriamente dita. Cada dia pode ser nosso
ultimo, e se o povo percebesse Isso, as
vidas de todos teriam um pouco mais de significado. Pelo menos era nisso que
acreditávamos, Marcus e eu. Foi assim que ele viveu, foi assim que ele morreu e
é assim que eu vivo”.
Adam
sentiu-se envergonhado. E disse em tom de desculpa.
-Não
é a toa que meu tio pediu que você fosse o orador. Sua maneira de pensar é...
Diferente, e suas palavras... Bem, nem sei o que dizer... Sinto-me envergonhado
de minha raiva.
Isso
trouxe de volta o sorriso do velho
-Não
fique, do seu ponto de vista era natural sentir tristeza e raiva contra a minha
pessoa, não me ofendeu e demonstrou que você se importava com ele- E de repente
Anthony ficou pensativo- Mas Marcus nunca me falou de irmãos ou de um sobrinho.
-Isso
é porquê eu não sou, pelo menos não por laços sanguíneos. Mas teve um episódio
de minha juventude em que tive que me passar por tal e ele e meu pai são amigos
de infância. Meu pai nunca me contou os detalhes, se recusou até a comparecer
aqui... De qualquer forma desde o incidente tenho... Quer dizer, tinha o hábito
de chamá-lo assim- ele mostrou um sorriso sem graça e olhou em direção à mulher
em prantos, seu sorriso se desmanchou tão rápido quanto veio e a sensação de
pena apoderou-se dele- Mas eu também não sabia que ele tinha se casado.
Anthony
olhou a mulher também, seu olhar ficou um pouco distante, imerso em uma outra
época. E tão rápido quanto entrou ele saiu do devaneio, assustando Adam. Isso o
fez sorrir.
-
Marcus preferia manter sua vida pessoal somente entre ele e os... Amigos da
mesma esfera de trabalho, se é que você me entende, senhor...?
-Albarn,
Adam Albarn. Pois é acho que esqueci de me apresentar
A
expressão de Tony ficou séria, agora ele olhava para Adam como se finalmente
tivesse se apercebido de com quem estava conversando, coisa que só durou alguns
segundos, então sua expressão voltou a suavizar-se
-Então
você é Adam! Eu bem que desconfiei, mas pelo que Marcus me disse, você me
pareceu mais...- Anthony deu de ombros- velho.
-Bem,
eu não me consideraria tão novo assim. 27 anos já é um bom tempo de vivência. O
suficiente para conhecer um pouquinho da vida, pelo menos. Diga, a esposa dele
também era da... “mesma esfera de trabalho”?
Anthony
sorriu.
-Você
é mais perspicaz do que Marcus o fez parecer- disse alisando o bigode- Sim, e
ainda é. Ela e Marc trabalharam algumas vezes juntos. E em nosso ambiente de
trabalho, quando se trabalha com uma parceira como a senhora Devian, é difícil
não se envolver emocionalmente. Bem, uma coisa levou à outra até que quando me
dei conta os dois já estavam casados. Eram um belo casal na época, me faziam
lembrar de como era ser jovem e ousado. Nunca tiveram filhos, não que eu saiba-
Ele olhou seu relógio de pulso- Bem, já está na hora de enterrá-lo. Se importaria
de acompanhar um velho neste momento tão sombrio?
-Não
mesmo- respondeu Adam prontamente.
E
ambos se dirigiram para a saída, cruzando com o arcebispo, que se aproximava do
caixão (provavelmente para despedir-se ou avisar os encarregados para iniciar o
transporte do cadáver até sua ultima morada), com a senhora Devian e seus
parentes e foram até o grande arco da entrada da catedral. Durante o trajeto
Adam percebeu mais uma presença dentro do antro já quase totalmente vazio.
A
pessoa em questão era uma velha senhora de vestes negras, feições típicas dos
bem vividos, sembrante sereno e olhar compenetrado no vazio. Estava sentada num
dos últimos bancos da nave. Vendo-a assim sozinha Adam sentiu pena da solidão
da pobre senhora, tendo que enfrentar sozinha esse âmbito triste e pesaroso.
Mas então, enquanto se aproximavam, a senhora pareceu sair de seu transe e
observou enquanto a dupla percorria seu trajeto. Ao ver-se observada ela deu a
Adam um simpático sorriso. Ele, constrangido, se limitou a um breve aceno com a
mão. Anthony parecia indiferente ao que se passava, seus elétricos olhos azuis
vislumbravam a chuva e mistérios que estavam além da compreensão de Adam.
Assim
que passaram pelos bancos onde ela estava sentada, Adam teve a ligeira
impressão que ela flutuava levemente sobre seu acento e seus pés estavam
invisíveis ao jovem. Ele esfregou os olhos e observou-a novamente. Estava ela
confortavelmente recostada sobre o banco e seus pequenos sapatinhos negros
combinavam com o vestido.
“O cansaço prega muitas peças nos
desavisados”
pensou Adam. Por fim, eles chegaram à saída.
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