Mais uma vez eu peço perdão pelos erros gramaticais (Ortográficos e Sintáticos). Dei uma atualizada nos capítulos anteriores, corrigindo mais erros que eu, por ventura, encontrei. E espero, sinceramente, que vocês aproveitem e curtam o capítulo.
(ah, o tributo dessa semana está quase pronto. Acho que o postarei bem mais tarde, mas ainda hoje)
Um abraço, boa leitura...
E lá vai nada:
Capítulo 4:
Anthony
pegou um guarda-chuva branco que deixara discretamente contra a parede
adjacente ao arco de entrada, Adam carregava o seu pendurado no braço. Ambos
deram a volta, um trajeto de meros 100 metros aproximadamente, até os fundos da
Catedral. Ambos em silêncio. Adam pensava em como encarar aquela ultima parte
do rito funerário e no que seu companheiro poderia estar ponderando.
Ao
chegarem no cemitério propriamente dito, o jovem espantou-se. Haviam mausoléus
e lápides encabeçadas por estátuas, anjos, santos e gárgulas. “Incrível! mesmo na morte, vemos o orgulho
humano estampado em todo lugar...” pensou. Sua dupla seguiu até o ponto
onde se conglomeravam os pesarosos convidados. Ali uma cova havia sido cavada
com sete palmos de profundidade aproximadamente. Fato era que Adam nunca
entendera o motivo de cavarem tão fundo. Não era como se os mortos fossem
tentar escapar de seus confortáveis túmulos, ou mesmo se importassem se seriam
ou não raptados. Como esse pensamente não o levaria a lugar nenhum, ele o
deixou de lado e se pôs a observar. Pouco acima da cabeceira do buraco havia
uma simples lápide onde se lia
Marcus
Devian
(1963
– 2017)
Abissus
abissum invocat
Adam se demorou,
observando atentamente o epitáfio de seu falecido amigo. Até que por fim,
vieram os carregadores, e com eles o caixão.
Assim que foi
posicionado no seu devido lugar, o arcebispo abriu a bíblia e recitou suas
sagradas palavras, implorando ao Todo-Poderoso Deus que julgasse justamente a
alma de tão extraordinário caráter e que a alma encontrasse no coração do Pai o
perdão pelos pecados que cometera e glória pelas virtudes que nutrira. Eram
belas palavras aquelas e Adam realmente desejava que assim fosse.
Flores foram
jogadas, terra e lágrimas também. A cerimônia seguia para seu fim. Alguns dos
presente já se retiravam. Provavelmente já não aguentavam mais aquilo: O
enterro ou o pesar. Outros provavelmente tinham afazeres mais importantes,
talvez já estivessem atrasados. Não importava, na verdade as únicas pessoas que
eram realmente obrigadas a acompanhar a cerimônia até o final eram aquelas que
sentiam que era sua obrigação pessoal fazê-lo. Sem dúvida a senhora Devian
ficaria até o final, como também o fariam seus parentes mais próximos, Talvez
não tanto pelo defunto como pela viúva. Anthony seria outro que com certeza
iria se demorar mais um pouco. Ficariam, talvez, mais seis ou sete convidados
por acharem que seria falta de decoro ou respeito para com o falecido. O
restante provavelmente acharia que o defunto não se importaria se eles saíssem
um pouco mais cedo.
Depois de
concluído aquele ritual onde os vivos se despedem do morto, Adam percebeu que
Anthony olhava incomodado para algum ponto entre os presentes. Ele teve de
procurar pouco.
Mas o que viu o
incomodou.
Dentre os
remanescentes havia uma excêntrica presença. Suas vestes eram negras, seus
cabelos eram negros (provavelmente tingidos), usava um monóculo que obstruía a
visão de Adam do seu olho esquerdo. Seu olho direito era castanho e
desinteressado. Olhava a lápide como se divagasse, alisava a todo tempo com um
único, lento e preciso movimento o fino bigode e a barbicha pontuda do mesmo
tom artificial de negro que o cabelo. Era alto e sua cartola o tornava ainda
mais alto. Ao seu lado, discretamente posicionada, estava a senhora que Adam
viu pouco antes de sair da Catedral.
Era uma dupla pitoresca. O homem parecia ser
diversos anos mais novo que a senhora e era quase duas cabeças mais alto, três
se a cartola fosse levada em consideração. Mais pitoresco ainda foi quando a
senhora de feições amáveis deu um leve puxão na manga de seu acompanhante e
este se curvou tanto que Adam achou que ele cairia. Quando suas cabeças se
nivelaram, ela sussurrou em seu ouvido e, pelo tempo que passou naquela posição,
o homem manteve-se intensamente compenetrado no que lhe era dito. Anthony
olhava a cena incomodado.
Tudo terminou em
uma questão de segundos o homem fez um pequeno aceno com a cabeça, soltou um
leve suspiro de derrota, graciosamente se levantou e virava-se para partir.
Adam o viu dar uma rápida piscadela marota, como se soubesse que estava sendo
observado e quem o estava observando, e foi embora cemitério afora.
Já a senhora
continuou onde estava mais um tempinho, olhando a lápide sonhadoramente.
Depois, como se apercebesse de que haviam mais coisas a serem feitas ela seguiu
pelas lápides e estátuas, provavelmente procurando o ponto de descanso de outro
que já lhe foi querido.
Anthony continuou
olhando na direção onde o homem da cartola desaparecera.
-Algum conhecido
seu?- Perguntou Adam.
-De uma forma ou
de outra... Mas não tenho certeza de que era realmente ele- Suspirou Anthoy.
- O que aconteceu
agora a pouco... O que te incomodou tanto assim?
-Temos aqui um
pequeno curioso, não é mesmo?- O velho o olhou ainda incomodado, sua voz tinha
um leve toque de reprovação- Temo que não possa lhe responder a essa pergunta,
porque sinceramente eu não sei. E não posso te revelar minhas suspeitas. Então
peço, em nome da amizade que você tinha por Marcus, que não mais me questione o
sobre o ocorrido. Isso pode ter relação com assuntos perigosos, cujo mero
conhecimento já o poria em risco.
Isso só serviu
para atiçar a curiosidade de Adam e fermentar mais uma torrente de perguntas,
mas ele respeitou o pedido do velho de branco. Ao invés disso ele tentou levar
a conversa para outro rumo.
-O que é esse
epitáfio?
Anthony olhou
brevemente para a lápide de Marcus.
-Foi algo que ele
leu num livro. São três palavras do latim que o atormentavam e o mantinham
vigilante o tempo todo desde que as aprendeu. Ele as repetia constantemente em
noites sombrias ou antes de começar um trabalho.
-E o que elas
significam?
-Abismo invoca
abismo. Ou, parafraseando o dito livro “Um passo em falso leva ao outro”.
Adam acenou. Eram
boas palavras, talvez tenebrosamente irônicas, levando-se em consideração o
local onde estavam inscritas. E talvez por isso soavam como uma espécie de
conselho. O ultimo conselho de Marcus Devian, que sua alma descansasse em paz.
(“Um paço em
falso leva ao outro. Eu dei os meus e veja onde eu parei!”)
Isso fez com que
Adam se sentisse melancólico. Ele olhou para os céus, a chuva começava a cessar.
-E agora?-
indagou, mais para si do que para Anthony.
-Eu vou voltar
para meu “apertamento” e tentar encontrar um ou dois documentos que eu já
deveria ter em posse. Talvez antes disso, eu fique mais um pouco por aqui. Já
você...- Anthony deu de ombros- Faça o que bem entender. Mas se quiser aceitar
um conselho, de um amigo de Marcus para outro: recomendo que volte para casa e
vá dormir o mais rápido possível, sua aparência parece bem cansada, está pior
que a de Marcus, e olha que ele era o defunto.
Adam, com esse
pequeno lembrete, lembrou-se e, consequentemente, sentiu a dor e cansaço do
trabalho. Anthony dizia a verdade. Precisava dormir, descansar um pouco. Com
certeza seu pai compreenderia... Talvez... Com um pouco de sorte, e o liberaria
pelo resto do dia. E não havia outro remédio, então ele cordialmente se
despediu de Anthony, que após as devida formalidades acrescentou.
-Se precisar de
qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar- Disse
ao mesmo tempo que entregava um cartãozinho de serviços onde se lia em pequenas
letras douradas.
Anthony Morty
Tel: 6077-157-707
Adam levantou uma
sobrancelha.
-Seu sobrenome é
Morte?
Isso fez o senhor
Morty gargalhar. Velho do jeito que era, soou estridente e asmático, até que
a gargalhada se transformou, de fato, num ataque de tosse.
-Não é Mor”te”, é
Mor”ti”- disse ainda sorrindo- Mas essa piada já é quase tão velha quanto eu.
“De qualquer
forma, está ficando tarde e se você continuar aqui por muito mais tempo, pode
ser que comece a chover mais uma vez.”
-Mas e quanto ao
senhor?
-Eu? Bem, talvez
eu ainda tenha uma coisa ou duas para fazer por aqui. Vá andando.
“Se o destino
quiser, nos veremos novamente”.
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