domingo, 16 de setembro de 2012

Reinos modernos (parte 2 de... Bem, saberemos quando terminar XD)

Como prometido, aqui está o capítulo dessa semana de reinos modernos, aproveitem e curtam XD
(obs: este é um pouco mais logo que o anterior, espero que vocês não se importem XP)

Capítulo 2


Adam estava cansado. Tão cansado que mal conseguia se manter acordado naquele maldito funeral. Tinha trabalhado sem parar por praticamente três dias consecutivos sem dormir direito e os projetos ainda estavam pela metade.
Adam Albarn era o jovem de cabelos oleosos negros, encurvado, com os braços apoiados nos joelhos e olheiras profundas. Sentava-se em meio as fileiras de bancos de madeira da Catedral. Seu estado não condizia com seu humor habitual, isso se devia tanto ao seu cansaço e sono como ao profundo pesar.
Os burburinhos e o mormaço não estavam tornando aquela situação nem um pouco mais tolerável. E se continuasse daquela forma, Adam definitivamente iria ter um ataque de agonia ou um colapso nervoso.
E enquanto o sr. Antony começava seu discurso, Adam remoía a morte do falecido, que veio sem mais nem menos, sem aviso prévio.
Três dias atrás Marcus estava bem e forte, tinha aparecido pelo escritório da firma com sua característica mochila negra, sobretudo de quatro botões e o sorriso debochado de sempre, como se achasse que por trás de tudo houvesse uma piada que somente ele entendesse. Foi ao escritório do pai de Adam, Eric Albarn (presidente e co-fundador da Construtora Albarn), tratar de negócios e cobrar um ou dois favores. Após isso Macus chamou Adam para um passeio. Almoçaram num restaurante perto do escritório, onde tiveram a sua ultima conversa. Algo que Adam remoía ainda agora, diante do cadáver da pessoa que lhe fora como um bom tio.
- Como vai a vida, “Jovem Al”?- Perguntou Marcus quando encontraram algum canto apropriado para sentarem.
-Você sabe, o de sempre: plantas para projetar, plantas para revisar, erros para corrigir... Eu digo, se meu pai fosse um pouco mais rigoroso comigo, ele me daria plantas para plantar!- Respondeu Adam com um sorriso maroto. E Marcus deu sua gargalhada característica.
- Isso é bom, isso é bom- Comentou quando parou de rir- Então... Nada de mais mesmo?
-uh hum- Concordou Adam- Sobre o quê você e meu pai trataram dessa vez?
-O de sempre: Negócios... E tentando convencê-lo a liberar o filho para um almoço mais cedo com um velho amigo- Acrescentou como se fosse um mero detalhe.
Adam sorriu.
-Você não toma jeito mesmo, não é?
-Não- Concordou retribuindo o sorriso- Não mesmo
- Então... Aqui estou, tendo um agradável almoço com “tio Marc”, tudo bem, tudo certo, Mas- Ele olhou diretamente nos olhos do amigo- Eu não consigo parar de pensar que possa haver um motivo ulterior por trás dessa coisa toda...
Marcus levantou uma sobrancelha.
-É tão estranho assim um amigo chamar outro para um almoço? Jogar conversa fora e coisas do tipo?
Adam apenas retribuiu um olhar duvidoso. Marcus suspirou e levantou as mão de maneira teatral.
-Tudo bem você me pegou. Eu admito, tem um motivo. Mas provavelmente você não vai gostar.
-Se você estava escondendo, claro que não seria algo agradável. Mas sabe como é a vida, né? Temos dias e dias. E seja lá o que for, estou preparado.
-Vida, né...- Marcus ficou um pouco mais sério- Vim aqui me despedir.
Adam ficou calado por alguns segundos, em choque.
-Ok, retiro o que disse. Eu definitivamente não estava preparado.- Disse quando se recuperou.
Marcus deu outra gargalhada.
-Sabe, acho que esse é um dos motivos de eu considerá-lo um dos melhores, Adam.
-O que você quer dizer?
-Mesmo diante de uma notícia dessas, você consegue amenizar as coisas, deixar o clima mais leve... Não são muitas pessoas que conseguem fazer isso de maneira tão despretensiosa e eu gosto disso, faz com que a vida pareça suportável.
- E não é?
Marcus gargalhou mai uma vez.
-É disso que estou falando, mas você ainda tem muito que aprender, “Jovem Al”
Adam ficou meio desconcertado, mas logo retomou a conversa.
-O que você quis dizer com “despedir”?
-O que eu disse, estou indo embora da cidade para realizar um trabalho de muito longa data. Pode ser que eu nem chegue a voltar.
-Falando nisso, será que algum dia você vai me falar com o que você trabalha afinal?
Marcus pareceu meditar sobre a questão,olhou para o amigo por alguns segundos, parecia prestes a dizer algo, mas desistiu, apenas disse
-Algum dia, “jovem Al”. Hoje não, mas com certeza algum dia.
-Sentirei saudades.
-Eu sei- Ele abriu um sorriso maroto- Por isso vou deixar algumas coisinhas com você. Pra me certificar que não serei esquecido.
-Eu jamais faria isso!
-Sei que não,mas de qualquer forma...- Marcus deu de ombros e tirou uma caixa de sapatos que parecia ocupar metade do volume da mochila- Desculpe, mas não consegui nada melhor para guardar essas coisas e não precisarei mais delas na cidade aonde estou indo.
Adam recebeu a caixa com uma mistura de desconcerto com perplexidade e confusão. Parecia velha e bem usada, estava um pouco amassada e a estampa original já havia abandonado o papelão. Ele remecheu um pouco e ouviu objetos se deslocando e se chocando.
-O que há aqui dentro?- Perguntou o jovem desconfiado.
-Nada ilícito...- Ele parou e reconsiderou um pouco- Para os padrões comuns... Ah, não é nada que te levaria para a cadeia, ou que te trará problemas- Ele abriu um sorriso que dizia, quase que com todas as palavras “Não sei exatamente como me explicar”
Adam achou graça daquilo.
-Você não toma jeito mesmo, não é?
-Não, Não mesmo.
Depois de almoçarem, os dois trocaram um forte aperto de mão e um abraço.
-Se cuide, tio- Falou Adam tristemente
-Você também jovem Al, você também.
Depois disso Marcus foi se afastando, suas costas viradas para Adam, acenando com a mão direita, sem olhar para trás.
No dia seguinte foi anunciado que Marcus Devian morreu.

-Adam Albarn- Foram as palavras que o retiraram de seus devaneios. Ele percebeu que uma lágrima escorreu pelo canto direito do seu rosto. Adam levantou pesadamente a cabeça e percebeu que o homem de branco na tribuna o invocava.- Se desejas prestar algum ultimo tributo ao senhor Devian, a hora é agora.
Adam limitou-se a abanar a cabeça afirmativamente e lentamente se levantou. Parecia não sofrer mais tanto com a fadiga do trabalho e se sentia um pouco mais disposto a encarar a realidade.
No trajeto para o caixão ele sentiu os olhares sobre ele: curiosos, desdenhosos, inquisidores. Com uma discreta olhadela pelos cantos dos olhos, Adam ficou admirado como o jogo de luz e sombra recaia sobre as pessoas que o observavam, encobrindo metade de suas faces em sombra e iluminando a outra em luz, um efeito bastante singular, especialmente em se tratando dos olhos, que pareciam todos serem de duas cores diferentes.
O caminho para o caixão parecia longo e pesaroso, cada passo parecia mais difícil de se dar que o anterior, e quanto mais se aproximava do caixão, mais Adam sentia o pesar de seu peito, mais olhares se voltavam para ele.
E mais quieta a catedral parecia ficar.
Quando chegou ao caixão, a luz que vinha da entrada não mais aquecia suas costas ou mesmo seus sapatos. Ele sentiu como se as sombras daquela Catedral o abraçassem e convidassem a se aproximar ainda mais. Como sendo convidado por uma aranha à sua teia. Ele fez menção de se aproximar da caixão para encarar o defunto, mas uma mão seguida de uma longa manga branca o segurou firmemente.
Por reflexo Adam virou-se para aquele que o perturbava e viu Anthony segurando-o.
-Senhor Albarn, antes que prosseguisse, quero dizer que é uma grande honra finalmente conhecê-lo e gostaria de lhe dizer uma ultima coisa.
-Que seria...?-Adam deixou a pergunta inacabada, olhando fixamente nos olhos de Anthony. E ficou surpreso ao ver que um de seus olhos era um azul elétrico e o outro era de um tom verde brilhante com manchas de amarelo, parecia algo doentio e risonho.
-Não sentiremos saudades.
-O que...- Tarde demais. Adam foi arremessado dentro do caixão, que por sinal estava vazio. E pouco antes de bater contra o estofado, quase que como em câmera lenta, ele viu o recinto.
Eram uma cena estranhamente macabra e elegante, chagava até a ter uma certa beleza. Todos olhavam para frente com um olhar impassível, sereno e todos tinham aquele risonho e brilhante olho verde no lugar do olho esquerdo, sentavam-se eretos e bem portados, era essa forma de comportamento coletivo que tornava a cena elegante. Chegava a ser desconcertante, artificial. Mas o que mais chamou a atenção de Adam foi ultimo detalhe viu do ambiente. Aquilo o deixou perplexo: a iluminação que vinha de fora, a luz crepuscular que iluminava as costas dos presentes, cobrindo seus rostos em sombra...
“Mas estava chovendo..”.Foi o pensamento que perpassou por Adam assim que bateu desconfortavelmente no veludo branco do caixão. E estranhamente seu corpo estava rígido, imóvel.
A ultima coisa que viu foi a figura sombria de Anthony aparecer com as duas mãos sobre a tampa do caixão, e aquele maldito olho verde e risonho desdenhava. Enquanto a tampa descia, Adam escutou uma voz aveludada e pausada diferente de qualquer coisa que já tivesse ouvido. Cinco palavras percorreram sua espinha como gelo e fizeram o coração bater rápido como uma locomotiva. E depois disso veio o escuro. O esquecimento.
“Descanse. Em. Paz... Senhor... Albarn...”

Continua... no próximo domingo

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