domingo, 30 de setembro de 2012

Tributo II

Eis meu segundo tributo àquele que realmente mereceu, mais por me aturar e me guiar por mais de 20 anos, Do que por qualquer outra coisa. Sou-lhe hoje muitíssimo grato por tudo que você fez e ainda faz por mim. Ainda que eu ache (Espere e deseje e tema) que você jamais veja essa publicação.

Todos merecem ser homenageados uma vez ou outra. E espero, sinceramente, que eu consiga chegar ao termo de fazê-lo a todos que tiveram alguma relevância para mim.

Aos demais leitores. Só espero que isso lhes ilumine alguma coisa à meu respeito e ilustre o respeito que tenho pela pessoa homenageada...

Eis que lhes apresento minha homenagem pessoal à uma das pessoas mais importantes de toda minha vida (sério, se a nomeada pessoa não existisse... Posso dizer que as coisas seriam bem diferentes)... Vocês provavelmente já sacaram de quem se trata... Se não, ficará extremamente claro depois da leitura.

Sem mais enrolação:

Tributo II
                               "Você diz que seus pais não entendem...
                                                     ...Mas você não entende seus pais"
                                                                         Pais e filhos- Legião Urbana


Grande engenheiro do meu caminho
Engenhoso gênio que me serviu de inspiração
Nunca deixou de me demonstrar seu carinho
indômito, que para sempre estará em meu coração
Leve, composto e cuidadoso. Uma pessoa de integridade
Daquelas de um carater de caridade
O ser à quem tenho a honra de pai nomear

Lamento que talvez ele de tudo não compreeda
Uma vez que humano ele ainda é
Invariavelmente, eu ainda sei e talvez você entenda
Zangar-se e frustrar-se é tão comum como o virar da maré

Brinco em meus delírios, mas isso é uma nescessidade
Onde quer que eu vá, peço-lhe perdão pelos meus desvios
Realmente, tu merecias um filho de maiores capacidades
Bem, sou o filho que tens, e sei que eu lhe trouxe muitos alívios
Ainda que tenhas que enfrentar tão duras realidades

Sinceramente... Obrigado por tudo. De verdade. Obrigado.... Pai

Reinos Modernos (Parte 4)

Eis o capítulo da semana. Peço desculpas pela demora, mas tive que dar uma ultima revisada no texto (Não importa quantas vezes eu o faça, parece que sempre existe algo que eu possa corrigir, acertar ou melhorar. E olhem que eu faço, no mínimo, três revisões do capítulo da semana, enquanto vou redigindo os próximos)

Mais uma vez eu peço perdão pelos erros gramaticais (Ortográficos e Sintáticos). Dei uma atualizada nos capítulos anteriores, corrigindo mais erros que eu, por ventura, encontrei. E espero, sinceramente, que vocês aproveitem e curtam o capítulo.

(ah, o tributo dessa semana está quase pronto. Acho que o postarei bem mais tarde, mas ainda hoje)

Um abraço, boa leitura...
E lá vai nada:

Capítulo 4:


Anthony pegou um guarda-chuva branco que deixara discretamente contra a parede adjacente ao arco de entrada, Adam carregava o seu pendurado no braço. Ambos deram a volta, um trajeto de meros 100 metros aproximadamente, até os fundos da Catedral. Ambos em silêncio. Adam pensava em como encarar aquela ultima parte do rito funerário e no que seu companheiro poderia estar ponderando.
Ao chegarem no cemitério propriamente dito, o jovem espantou-se. Haviam mausoléus e lápides encabeçadas por estátuas, anjos, santos e gárgulas. “Incrível! mesmo na morte, vemos o orgulho humano estampado em todo lugar...” pensou. Sua dupla seguiu até o ponto onde se conglomeravam os pesarosos convidados. Ali uma cova havia sido cavada com sete palmos de profundidade aproximadamente. Fato era que Adam nunca entendera o motivo de cavarem tão fundo. Não era como se os mortos fossem tentar escapar de seus confortáveis túmulos, ou mesmo se importassem se seriam ou não raptados. Como esse pensamente não o levaria a lugar nenhum, ele o deixou de lado e se pôs a observar. Pouco acima da cabeceira do buraco havia uma simples lápide onde se lia

Marcus Devian
(1963 – 2017)

Abissus abissum invocat

Adam se demorou, observando atentamente o epitáfio de seu falecido amigo. Até que por fim, vieram os carregadores, e com eles o caixão.
Assim que foi posicionado no seu devido lugar, o arcebispo abriu a bíblia e recitou suas sagradas palavras, implorando ao Todo-Poderoso Deus que julgasse justamente a alma de tão extraordinário caráter e que a alma encontrasse no coração do Pai o perdão pelos pecados que cometera e glória pelas virtudes que nutrira. Eram belas palavras aquelas e Adam realmente desejava que assim fosse.
Flores foram jogadas, terra e lágrimas também. A cerimônia seguia para seu fim. Alguns dos presente já se retiravam. Provavelmente já não aguentavam mais aquilo: O enterro ou o pesar. Outros provavelmente tinham afazeres mais importantes, talvez já estivessem atrasados. Não importava, na verdade as únicas pessoas que eram realmente obrigadas a acompanhar a cerimônia até o final eram aquelas que sentiam que era sua obrigação pessoal fazê-lo. Sem dúvida a senhora Devian ficaria até o final, como também o fariam seus parentes mais próximos, Talvez não tanto pelo defunto como pela viúva. Anthony seria outro que com certeza iria se demorar mais um pouco. Ficariam, talvez, mais seis ou sete convidados por acharem que seria falta de decoro ou respeito para com o falecido. O restante provavelmente acharia que o defunto não se importaria se eles saíssem um pouco mais cedo.
Depois de concluído aquele ritual onde os vivos se despedem do morto, Adam percebeu que Anthony olhava incomodado para algum ponto entre os presentes. Ele teve de procurar pouco.
Mas o que viu o incomodou.
Dentre os remanescentes havia uma excêntrica presença. Suas vestes eram negras, seus cabelos eram negros (provavelmente tingidos), usava um monóculo que obstruía a visão de Adam do seu olho esquerdo. Seu olho direito era castanho e desinteressado. Olhava a lápide como se divagasse, alisava a todo tempo com um único, lento e preciso movimento o fino bigode e a barbicha pontuda do mesmo tom artificial de negro que o cabelo. Era alto e sua cartola o tornava ainda mais alto. Ao seu lado, discretamente posicionada, estava a senhora que Adam viu pouco antes de sair da Catedral.
 Era uma dupla pitoresca. O homem parecia ser diversos anos mais novo que a senhora e era quase duas cabeças mais alto, três se a cartola fosse levada em consideração. Mais pitoresco ainda foi quando a senhora de feições amáveis deu um leve puxão na manga de seu acompanhante e este se curvou tanto que Adam achou que ele cairia. Quando suas cabeças se nivelaram, ela sussurrou em seu ouvido e, pelo tempo que passou naquela posição, o homem manteve-se intensamente compenetrado no que lhe era dito. Anthony olhava a cena incomodado.
Tudo terminou em uma questão de segundos o homem fez um pequeno aceno com a cabeça, soltou um leve suspiro de derrota, graciosamente se levantou e virava-se para partir. Adam o viu dar uma rápida piscadela marota, como se soubesse que estava sendo observado e quem o estava observando, e foi embora cemitério afora.
Já a senhora continuou onde estava mais um tempinho, olhando a lápide sonhadoramente. Depois, como se apercebesse de que haviam mais coisas a serem feitas ela seguiu pelas lápides e estátuas, provavelmente procurando o ponto de descanso de outro que já lhe foi querido.
Anthony continuou olhando na direção onde o homem da cartola desaparecera.
-Algum conhecido seu?- Perguntou Adam.
-De uma forma ou de outra... Mas não tenho certeza de que era realmente ele- Suspirou Anthoy.
- O que aconteceu agora a pouco... O que te incomodou tanto assim?
-Temos aqui um pequeno curioso, não é mesmo?- O velho o olhou ainda incomodado, sua voz tinha um leve toque de reprovação- Temo que não possa lhe responder a essa pergunta, porque sinceramente eu não sei. E não posso te revelar minhas suspeitas. Então peço, em nome da amizade que você tinha por Marcus, que não mais me questione o sobre o ocorrido. Isso pode ter relação com assuntos perigosos, cujo mero conhecimento já o poria em risco.
Isso só serviu para atiçar a curiosidade de Adam e fermentar mais uma torrente de perguntas, mas ele respeitou o pedido do velho de branco. Ao invés disso ele tentou levar a conversa para outro rumo.
-O que é esse epitáfio?
Anthony olhou brevemente para a lápide de Marcus.
-Foi algo que ele leu num livro. São três palavras do latim que o atormentavam e o mantinham vigilante o tempo todo desde que as aprendeu. Ele as repetia constantemente em noites sombrias ou antes de começar um trabalho.
-E o que elas significam?
-Abismo invoca abismo. Ou, parafraseando o dito livro “Um passo em falso leva ao outro”.
Adam acenou. Eram boas palavras, talvez tenebrosamente irônicas, levando-se em consideração o local onde estavam inscritas. E talvez por isso soavam como uma espécie de conselho. O ultimo conselho de Marcus Devian, que sua alma descansasse em paz.
(“Um paço em falso leva ao outro. Eu dei os meus e veja onde eu parei!”)
Isso fez com que Adam se sentisse melancólico. Ele olhou para os céus, a chuva começava a cessar.
-E agora?- indagou, mais para si do que para Anthony.
-Eu vou voltar para meu “apertamento” e tentar encontrar um ou dois documentos que eu já deveria ter em posse. Talvez antes disso, eu fique mais um pouco por aqui. Já você...- Anthony deu de ombros- Faça o que bem entender. Mas se quiser aceitar um conselho, de um amigo de Marcus para outro: recomendo que volte para casa e vá dormir o mais rápido possível, sua aparência parece bem cansada, está pior que a de Marcus, e olha que ele era o defunto.
Adam, com esse pequeno lembrete, lembrou-se e, consequentemente, sentiu a dor e cansaço do trabalho. Anthony dizia a verdade. Precisava dormir, descansar um pouco. Com certeza seu pai compreenderia... Talvez... Com um pouco de sorte, e o liberaria pelo resto do dia. E não havia outro remédio, então ele cordialmente se despediu de Anthony, que após as devida formalidades acrescentou.
-Se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por favor, não hesite em me ligar- Disse ao mesmo tempo que entregava um cartãozinho de serviços onde se lia em pequenas letras douradas.

Anthony Morty

Tel: 6077-157-707

Adam levantou uma sobrancelha.
-Seu sobrenome é Morte?
Isso fez o senhor Morty gargalhar. Velho do jeito que era, soou estridente e asmático, até que a gargalhada se transformou, de fato, num ataque de tosse.
-Não é Mor”te”, é Mor”ti”- disse ainda sorrindo- Mas essa piada já é quase tão velha quanto eu.
“De qualquer forma, está ficando tarde e se você continuar aqui por muito mais tempo, pode ser que comece a chover mais uma vez.”
-Mas e quanto ao senhor?
-Eu? Bem, talvez eu ainda tenha uma coisa ou duas para fazer por aqui. Vá andando.
“Se o destino quiser, nos veremos novamente”.

domingo, 23 de setembro de 2012

Tributo (I)

Agora, acho que começarei uma série de poemas. Tributos à algumas pessoas (Nem se preocupem, isso não afetará, de forma alguma, a série Reinos Modernos). Mas acredito que todas as pessoas merecem um tributo decente vez por outra. Meu único arrependimento é a respeito do sujeito que está fazendo tais homenagens XD. E que, talvez, esses poemas não sejam dignos dessas pessoas.

Esse é dedicado à... Bem, não estragarei a surpresa =D (E está na cara)


Àquela que muito, muito longe está
Lá naquele longe, longe lugar
Incrivel estrela numa escura noite
Não importa a distancia que nos é imposta
Esteve sempre ao meu lado ontém e hoje

Brilha intensamente o brilho de tua felicidade
Ouço alegremente as canções de tua cidade
Roubado me foi, de sua presença, o conforto
Bela foi sua saida da praia, da costa
Ainda mais acompanhada de tão imponente esposo

Melodias foram e serão cantadas
Ainda que talvez não sejam ouvidas
Indago-me se não ficarias encantada
Ao saber que glorificam sua alegria

Mas chega o momento e não quero me despedir
Ainda assim a escrita se encurta
Fazendo-me ir
Agora paro. Frase curta
Logo me vem em ondas longas
Dominado, o sono me vem e me cala
O onirismo vem, mas sua luz minha alma acalma

Reinos Modernos (Parte 3)

Aqui está o capítulo dessa semana de reinos Modernos, Espero que vocês curtam

(E já aproveitando para pedir perdão por qualquer erro gramatical ou sintáxico que eu possa ter cometido)

ok, aqui vai nada:

Capítulo 3:


Foi com um solavanco que Adam acordou. Suava frio, suas roupas estavam encharcadas e ele tremia levemente. E qual não foi sua surpresa e constrangimento ao perceber que dormira sentado durante o fúnebre velório do pobre Marcus. Após olhar ao redor e se desculpar utilizando pequenos gesto com a senhora que levou um susto ao seu lado, Adam viu que ainda chovia, Anthony ainda discursava e o burburinho continuava. Nunca antes se sentira tão aliviado em toda a sua vida e sua realidade nunca antes lhe transmitiu tamanha sensação de segurança. E ainda assim o sonho o havia perturbado, parecera real demais e com detalhes demais. Ele tentou esquecer isso e se concentrar no que estava sendo dito, mas quanto mais tentava esquecer o pânico e a sensação de terror, mais nítida vinha-lhe à mente a imagem decrépita daquele singular olho verde.
A cerimônia seguiu para a próxima etapa. Os convidados começaram a tirar seus guarda-chuvas e se dirigir ao cemitério. Aos poucos a nave foi se esvaziando até que permaneceram somente a esposa e seus familiares mais próximos, os transeuntes, que voltaram a esperar que a chuva passasse na saída da Catedral, Anthony, o arcebispo e Adam.
O jovem se dirigiu ao altar, passando pela mulher que estava sendo amparada presumivelmente pelas irmãs e pais, e chegando até a beirada do caixão. Ele olhou desconfiado para o homem de branco e ficou muito aliviado ao ver que ambos os olhos dele eram de tom azul elétrico. Ele então olhou para dentro do caixão.
E lá estava Marcus. Seus cabelos marrons, já com alguns fios grisalhos, que originalmente eram rebeldes foram tratados com gel e outros produtos para ficarem impecavelmente penteados, seus olhos estavam fechados, sua feição era suave, com se estivesse dormindo e seus lábios apenas sugeriam um sorriso, como que se segurando para não estragar a piada.
Isso fez Adam esboçar um sorriso, e deixar algumas lágrimas rolarem. Pelo menos aquelo corpo dentro de um terninho de terceira parecia...
(Descanse. Em. Paz...)
...Sereno. Isso de certa forma confortava Adam, ainda que nunca mais fosse falar com o tio, pelo menos ele sabia que agora ele estava em paz...
-É realmente uma pena o que aconteceu com ele. Preferia que fosse de outra forma. Acho que se fosse, o pobre infeliz teria ainda mais alguns anos.
A voz que vinha de trás dele só poderia pertencer ao sujeito de branco, Anthony. E mesmo assim, ou por causa disso, Adam não pode evitar o calafrio e um pequeno espasmo de susto. Ao perceber a surpresa do rapaz, o senhor retorceu o canto do lábio no que poderia ser um pequeno sorriso, não fosse o bigode. Adam voltou a olhar o corpo do amigo.
-E eu estava com ele justamente um dia antes de...-Sua voz começava a embargar- Deus! Ele parecia tão bem... Tão... Vivo! O que raios poderia ter causado... causado... Isso...?
Adam fazia força para conter as lágrimas, uma mão ossuda pousou levemente em seu ombro.
-Não posso lhe dar os detalhes, mas posso lhe garantir que este homem morreu acreditando estar fazendo o que era certo, pelo bem dos seus ideais.
-Grande bem isso lhe fez...- Havia amargura na voz de Adam- Espere... Quer dizer que- ele virou-se para encarar o velho novamente- você estava presente quando...
Adam não conseguiu terminar. Anthony se limitou a abanar a cabeça.
-E impotente para evitar que acontecesse, para o pesar de todos. O fato ainda me pesa. E muito.
-Quer dizer que a culpa é sua?! Por sua causa ele...
-Morreu. Sim e não. Posso admitir parte da culpa, ou toda ela, mas não posso mudar esse fato. Marcus está morto e o responsável está... Bem, não saberia dizer nada quanto ao responsável, o verdadeiro pelo menos.
- O que você quer dizer com isso?
-Não posso te falar, sigilo do trabalho e ossos do oficio. Eu te garanto que o trabalho dele não era livre de perigos, sim. Porém...
-O quê?!- havia um tom de desafio por trás de sua voz.
-Meu caro- Anthony adquiriu uma postura séria- Não ouvistes o que passei quase meia hora explicando?! Um dos riscos que cada um de nós assumimos ao estarmos vivos é que a qualquer hora podemos morrer. Se Marcus não tivesse morrido da maneira como aconteceu, poderia ter acontecido de maneira muito menos significativa, um gole errado um tropeço, mesmo um ataque cardiaco ou derrame cerebral podem causar mortes menos relevantes ou grandiosas, encerrando vidas inteiras por causa de erros tolos. O interessante é que os seres humanos tomam o amanhã como dado, como se o próximo amanhecer fosse um direito de cada ser vivo, como se todos que conhecemos fossem imortais e que sempre teremos mais um amanhã para lidarmos com as pessoas que nos são importantes. E a realidade nos lembra todos os dias que os caminhos não são bem esses. A vida é um diamante: preciosa e frágil
“E se tolos são os que pensam que o amanhã sempre virá, mais tolos ainda são os que tentam fazer por onde assim seja. Buscando a imortalidade, de si próprios ou de todos. Pois esquecem que a vida não é um mar de rosas, que para sempre é, e sempre será, muito tempo. Ao invés de viver cada dia intensamente buscam maneiras engenhosas de prolongar suas vidas, para aplacarem o primordial medo da morte. Uma tolice, de fato”
“Sinceramente acho que as pessoas deviam se preocupar mais em como morrer (E antes disso em como viver), do que com a morte propriamente dita. Cada dia pode ser nosso ultimo, e se o povo percebesse Isso,  as vidas de todos teriam um pouco mais de significado. Pelo menos era nisso que acreditávamos, Marcus e eu. Foi assim que ele viveu, foi assim que ele morreu e é assim que eu vivo”.
Adam sentiu-se envergonhado. E disse em tom de desculpa.
-Não é a toa que meu tio pediu que você fosse o orador. Sua maneira de pensar é... Diferente, e suas palavras... Bem, nem sei o que dizer... Sinto-me envergonhado de minha raiva.
Isso trouxe de volta o sorriso do velho
-Não fique, do seu ponto de vista era natural sentir tristeza e raiva contra a minha pessoa, não me ofendeu e demonstrou que você se importava com ele- E de repente Anthony ficou pensativo- Mas Marcus nunca me falou de irmãos ou de um sobrinho.
-Isso é porquê eu não sou, pelo menos não por laços sanguíneos. Mas teve um episódio de minha juventude em que tive que me passar por tal e ele e meu pai são amigos de infância. Meu pai nunca me contou os detalhes, se recusou até a comparecer aqui... De qualquer forma desde o incidente tenho... Quer dizer, tinha o hábito de chamá-lo assim- ele mostrou um sorriso sem graça e olhou em direção à mulher em prantos, seu sorriso se desmanchou tão rápido quanto veio e a sensação de pena apoderou-se dele- Mas eu também não sabia que ele tinha se casado.
Anthony olhou a mulher também, seu olhar ficou um pouco distante, imerso em uma outra época. E tão rápido quanto entrou ele saiu do devaneio, assustando Adam. Isso o fez sorrir.
- Marcus preferia manter sua vida pessoal somente entre ele e os... Amigos da mesma esfera de trabalho, se é que você me entende, senhor...?
-Albarn, Adam Albarn. Pois é acho que esqueci de me apresentar
A expressão de Tony ficou séria, agora ele olhava para Adam como se finalmente tivesse se apercebido de com quem estava conversando, coisa que só durou alguns segundos, então sua expressão voltou a suavizar-se
-Então você é Adam! Eu bem que desconfiei, mas pelo que Marcus me disse, você me pareceu mais...- Anthony deu de ombros- velho.
-Bem, eu não me consideraria tão novo assim. 27 anos já é um bom tempo de vivência. O suficiente para conhecer um pouquinho da vida, pelo menos. Diga, a esposa dele também era da... “mesma esfera de trabalho”?
Anthony sorriu.
-Você é mais perspicaz do que Marcus o fez parecer- disse alisando o bigode- Sim, e ainda é. Ela e Marc trabalharam algumas vezes juntos. E em nosso ambiente de trabalho, quando se trabalha com uma parceira como a senhora Devian, é difícil não se envolver emocionalmente. Bem, uma coisa levou à outra até que quando me dei conta os dois já estavam casados. Eram um belo casal na época, me faziam lembrar de como era ser jovem e ousado. Nunca tiveram filhos, não que eu saiba- Ele olhou seu relógio de pulso- Bem, já está na hora de enterrá-lo. Se importaria de acompanhar um velho neste momento tão sombrio?
-Não mesmo- respondeu Adam prontamente.
E ambos se dirigiram para a saída, cruzando com o arcebispo, que se aproximava do caixão (provavelmente para despedir-se ou avisar os encarregados para iniciar o transporte do cadáver até sua ultima morada), com a senhora Devian e seus parentes e foram até o grande arco da entrada da catedral. Durante o trajeto Adam percebeu mais uma presença dentro do antro já quase totalmente vazio.
A pessoa em questão era uma velha senhora de vestes negras, feições típicas dos bem vividos, sembrante sereno e olhar compenetrado no vazio. Estava sentada num dos últimos bancos da nave. Vendo-a assim sozinha Adam sentiu pena da solidão da pobre senhora, tendo que enfrentar sozinha esse âmbito triste e pesaroso. Mas então, enquanto se aproximavam, a senhora pareceu sair de seu transe e observou enquanto a dupla percorria seu trajeto. Ao ver-se observada ela deu a Adam um simpático sorriso. Ele, constrangido, se limitou a um breve aceno com a mão. Anthony parecia indiferente ao que se passava, seus elétricos olhos azuis vislumbravam a chuva e mistérios que estavam além da compreensão de Adam.
Assim que passaram pelos bancos onde ela estava sentada, Adam teve a ligeira impressão que ela flutuava levemente sobre seu acento e seus pés estavam invisíveis ao jovem. Ele esfregou os olhos e observou-a novamente. Estava ela confortavelmente recostada sobre o banco e seus pequenos sapatinhos negros combinavam com o vestido.
“O cansaço prega muitas peças nos desavisados” pensou Adam. Por fim, eles chegaram à saída.

domingo, 16 de setembro de 2012

Reinos modernos (parte 2 de... Bem, saberemos quando terminar XD)

Como prometido, aqui está o capítulo dessa semana de reinos modernos, aproveitem e curtam XD
(obs: este é um pouco mais logo que o anterior, espero que vocês não se importem XP)

Capítulo 2


Adam estava cansado. Tão cansado que mal conseguia se manter acordado naquele maldito funeral. Tinha trabalhado sem parar por praticamente três dias consecutivos sem dormir direito e os projetos ainda estavam pela metade.
Adam Albarn era o jovem de cabelos oleosos negros, encurvado, com os braços apoiados nos joelhos e olheiras profundas. Sentava-se em meio as fileiras de bancos de madeira da Catedral. Seu estado não condizia com seu humor habitual, isso se devia tanto ao seu cansaço e sono como ao profundo pesar.
Os burburinhos e o mormaço não estavam tornando aquela situação nem um pouco mais tolerável. E se continuasse daquela forma, Adam definitivamente iria ter um ataque de agonia ou um colapso nervoso.
E enquanto o sr. Antony começava seu discurso, Adam remoía a morte do falecido, que veio sem mais nem menos, sem aviso prévio.
Três dias atrás Marcus estava bem e forte, tinha aparecido pelo escritório da firma com sua característica mochila negra, sobretudo de quatro botões e o sorriso debochado de sempre, como se achasse que por trás de tudo houvesse uma piada que somente ele entendesse. Foi ao escritório do pai de Adam, Eric Albarn (presidente e co-fundador da Construtora Albarn), tratar de negócios e cobrar um ou dois favores. Após isso Macus chamou Adam para um passeio. Almoçaram num restaurante perto do escritório, onde tiveram a sua ultima conversa. Algo que Adam remoía ainda agora, diante do cadáver da pessoa que lhe fora como um bom tio.
- Como vai a vida, “Jovem Al”?- Perguntou Marcus quando encontraram algum canto apropriado para sentarem.
-Você sabe, o de sempre: plantas para projetar, plantas para revisar, erros para corrigir... Eu digo, se meu pai fosse um pouco mais rigoroso comigo, ele me daria plantas para plantar!- Respondeu Adam com um sorriso maroto. E Marcus deu sua gargalhada característica.
- Isso é bom, isso é bom- Comentou quando parou de rir- Então... Nada de mais mesmo?
-uh hum- Concordou Adam- Sobre o quê você e meu pai trataram dessa vez?
-O de sempre: Negócios... E tentando convencê-lo a liberar o filho para um almoço mais cedo com um velho amigo- Acrescentou como se fosse um mero detalhe.
Adam sorriu.
-Você não toma jeito mesmo, não é?
-Não- Concordou retribuindo o sorriso- Não mesmo
- Então... Aqui estou, tendo um agradável almoço com “tio Marc”, tudo bem, tudo certo, Mas- Ele olhou diretamente nos olhos do amigo- Eu não consigo parar de pensar que possa haver um motivo ulterior por trás dessa coisa toda...
Marcus levantou uma sobrancelha.
-É tão estranho assim um amigo chamar outro para um almoço? Jogar conversa fora e coisas do tipo?
Adam apenas retribuiu um olhar duvidoso. Marcus suspirou e levantou as mão de maneira teatral.
-Tudo bem você me pegou. Eu admito, tem um motivo. Mas provavelmente você não vai gostar.
-Se você estava escondendo, claro que não seria algo agradável. Mas sabe como é a vida, né? Temos dias e dias. E seja lá o que for, estou preparado.
-Vida, né...- Marcus ficou um pouco mais sério- Vim aqui me despedir.
Adam ficou calado por alguns segundos, em choque.
-Ok, retiro o que disse. Eu definitivamente não estava preparado.- Disse quando se recuperou.
Marcus deu outra gargalhada.
-Sabe, acho que esse é um dos motivos de eu considerá-lo um dos melhores, Adam.
-O que você quer dizer?
-Mesmo diante de uma notícia dessas, você consegue amenizar as coisas, deixar o clima mais leve... Não são muitas pessoas que conseguem fazer isso de maneira tão despretensiosa e eu gosto disso, faz com que a vida pareça suportável.
- E não é?
Marcus gargalhou mai uma vez.
-É disso que estou falando, mas você ainda tem muito que aprender, “Jovem Al”
Adam ficou meio desconcertado, mas logo retomou a conversa.
-O que você quis dizer com “despedir”?
-O que eu disse, estou indo embora da cidade para realizar um trabalho de muito longa data. Pode ser que eu nem chegue a voltar.
-Falando nisso, será que algum dia você vai me falar com o que você trabalha afinal?
Marcus pareceu meditar sobre a questão,olhou para o amigo por alguns segundos, parecia prestes a dizer algo, mas desistiu, apenas disse
-Algum dia, “jovem Al”. Hoje não, mas com certeza algum dia.
-Sentirei saudades.
-Eu sei- Ele abriu um sorriso maroto- Por isso vou deixar algumas coisinhas com você. Pra me certificar que não serei esquecido.
-Eu jamais faria isso!
-Sei que não,mas de qualquer forma...- Marcus deu de ombros e tirou uma caixa de sapatos que parecia ocupar metade do volume da mochila- Desculpe, mas não consegui nada melhor para guardar essas coisas e não precisarei mais delas na cidade aonde estou indo.
Adam recebeu a caixa com uma mistura de desconcerto com perplexidade e confusão. Parecia velha e bem usada, estava um pouco amassada e a estampa original já havia abandonado o papelão. Ele remecheu um pouco e ouviu objetos se deslocando e se chocando.
-O que há aqui dentro?- Perguntou o jovem desconfiado.
-Nada ilícito...- Ele parou e reconsiderou um pouco- Para os padrões comuns... Ah, não é nada que te levaria para a cadeia, ou que te trará problemas- Ele abriu um sorriso que dizia, quase que com todas as palavras “Não sei exatamente como me explicar”
Adam achou graça daquilo.
-Você não toma jeito mesmo, não é?
-Não, Não mesmo.
Depois de almoçarem, os dois trocaram um forte aperto de mão e um abraço.
-Se cuide, tio- Falou Adam tristemente
-Você também jovem Al, você também.
Depois disso Marcus foi se afastando, suas costas viradas para Adam, acenando com a mão direita, sem olhar para trás.
No dia seguinte foi anunciado que Marcus Devian morreu.

-Adam Albarn- Foram as palavras que o retiraram de seus devaneios. Ele percebeu que uma lágrima escorreu pelo canto direito do seu rosto. Adam levantou pesadamente a cabeça e percebeu que o homem de branco na tribuna o invocava.- Se desejas prestar algum ultimo tributo ao senhor Devian, a hora é agora.
Adam limitou-se a abanar a cabeça afirmativamente e lentamente se levantou. Parecia não sofrer mais tanto com a fadiga do trabalho e se sentia um pouco mais disposto a encarar a realidade.
No trajeto para o caixão ele sentiu os olhares sobre ele: curiosos, desdenhosos, inquisidores. Com uma discreta olhadela pelos cantos dos olhos, Adam ficou admirado como o jogo de luz e sombra recaia sobre as pessoas que o observavam, encobrindo metade de suas faces em sombra e iluminando a outra em luz, um efeito bastante singular, especialmente em se tratando dos olhos, que pareciam todos serem de duas cores diferentes.
O caminho para o caixão parecia longo e pesaroso, cada passo parecia mais difícil de se dar que o anterior, e quanto mais se aproximava do caixão, mais Adam sentia o pesar de seu peito, mais olhares se voltavam para ele.
E mais quieta a catedral parecia ficar.
Quando chegou ao caixão, a luz que vinha da entrada não mais aquecia suas costas ou mesmo seus sapatos. Ele sentiu como se as sombras daquela Catedral o abraçassem e convidassem a se aproximar ainda mais. Como sendo convidado por uma aranha à sua teia. Ele fez menção de se aproximar da caixão para encarar o defunto, mas uma mão seguida de uma longa manga branca o segurou firmemente.
Por reflexo Adam virou-se para aquele que o perturbava e viu Anthony segurando-o.
-Senhor Albarn, antes que prosseguisse, quero dizer que é uma grande honra finalmente conhecê-lo e gostaria de lhe dizer uma ultima coisa.
-Que seria...?-Adam deixou a pergunta inacabada, olhando fixamente nos olhos de Anthony. E ficou surpreso ao ver que um de seus olhos era um azul elétrico e o outro era de um tom verde brilhante com manchas de amarelo, parecia algo doentio e risonho.
-Não sentiremos saudades.
-O que...- Tarde demais. Adam foi arremessado dentro do caixão, que por sinal estava vazio. E pouco antes de bater contra o estofado, quase que como em câmera lenta, ele viu o recinto.
Eram uma cena estranhamente macabra e elegante, chagava até a ter uma certa beleza. Todos olhavam para frente com um olhar impassível, sereno e todos tinham aquele risonho e brilhante olho verde no lugar do olho esquerdo, sentavam-se eretos e bem portados, era essa forma de comportamento coletivo que tornava a cena elegante. Chegava a ser desconcertante, artificial. Mas o que mais chamou a atenção de Adam foi ultimo detalhe viu do ambiente. Aquilo o deixou perplexo: a iluminação que vinha de fora, a luz crepuscular que iluminava as costas dos presentes, cobrindo seus rostos em sombra...
“Mas estava chovendo..”.Foi o pensamento que perpassou por Adam assim que bateu desconfortavelmente no veludo branco do caixão. E estranhamente seu corpo estava rígido, imóvel.
A ultima coisa que viu foi a figura sombria de Anthony aparecer com as duas mãos sobre a tampa do caixão, e aquele maldito olho verde e risonho desdenhava. Enquanto a tampa descia, Adam escutou uma voz aveludada e pausada diferente de qualquer coisa que já tivesse ouvido. Cinco palavras percorreram sua espinha como gelo e fizeram o coração bater rápido como uma locomotiva. E depois disso veio o escuro. O esquecimento.
“Descanse. Em. Paz... Senhor... Albarn...”

Continua... no próximo domingo

domingo, 9 de setembro de 2012

Reinos Modernos (Parte 1)

Bem, to sumido. Não que alguém tenha realmente sentido minha falta... Ou me acompanhe. De qualquer forma, vou tentar mudar isso. A partir de agora e semanalmente irei publicar (o.o ele disse "publicar Semanalmente"?! Isso mesmo Se-Ma-Nal-Mente XD) um escrito que estou redigindo. É uma narrativa baseada em algumas lendas urbanas e outras "Nerdisses" que achei navegando por aí.

Originalmente era pra ser uma narrativa de um RPG que eu estava tentando criar no sistema Story-Telling (World of Darkness), mas ela foi tomando outros rumos... Como sempre.

Ah, um feedback seria bom vez por outra... Entonces... Se não for REALMENTE nenhum grande trabalho... please, prety please, comentem.

ok, lá vai nada

Capítulo 1

           Morto. Marcus estava morto. E ninguém, especialmente as pessoas presentes naquela Catedral do santo Arcanjo Miguel, naquele momento, poderia contestar o fato.
            Chovia, trovões ribombavam por todo o céu. O ar pesava com a egrégora sombria que pairava pelas paredes daquele santo recinto. Mais a frente perto do altar várias mulheres choravam, algumas velhas, outras não. Mas uma em específico chorava copiosamente, quase a beira de um infarto. Ela teria, em circunstâncias menos pesarosas, aparentado já ter vivido muito, mas naquela momento sua aparência era decrépita: Olheiras fundas, rugas, fios grisalhos, maquiagem borrada... É, não existe coisa no mundo mais deprimente e que melhor exemplifique ou personalize o pesar do ambiente do que o pranto de uma amante e esposa dedicada diante do cadáver do marido. Para não falar no vestiário sombrio. Mas esse fato se torna irrelevante nesse ambiente.
Porque quase todos estavam de negro.
Bastava uma olhada superficial na população daquela igreja, naquele exato momento, para saber que Marcus não era um homem comum. Diversas figuras de destaque estavam presentes naquele velório, o que confundia os comuns e familiares da esposa. Dentre os presentes estavam o prefeito da cidade Victor Pinheiro, o arcebispo Jullius Caster, o secretário de Defesa do exército e alguns donos de empresas locais. Espantava ainda mais os ausentes: à exceção da única pessoa que não estava de preto, mais ninguém sentava no espaço dedicado aos familiares do falecido. Outra coisa que chamava a atenção era o motivo da presença de tão ilustres figuras em uma cerimônia aberta ao público.
Estas presenças, aliadas à pouca informação que se tinha sobre o falecido, era suficiente para que fofocas e murmúrios se iniciassem à meio-tom
Ao badalar das três horas da tarde, um sujeito bastante peculiar se levantou. Tinha uma aparência extremamente envelhecida, era pálido, tinha a pele manchada, cabelos e bigode fartos e bem cuidados, lisos, mas grisalhos. Poderia ter sessenta, até mesmo setenta anos. E ainda assim conservava uma elegância e delicadeza que simplesmente não combinavam, mas complementavam seu ar severo.
Ele subiu num pequeno pedestal, se posicionou atrás da tribuna e encarou todos os presentes. Era uma platéia razoável e bastante heterogênea. Jovens e idosos, figurões e ninguéns, homens e mulheres.
Ele não se importava. Bateu um pouco a poeira do terno branco, ajeitou um pouco a lapela e a rubra gravata; pigarreou um pouco e disse:
-Senhores, senhoras, senhoritas, excelências, agregados...- Então ele olhou além, para os portais da igreja- E vocês aí, ao pé da escada!
Todos tiveram o ímpeto de se virar. A atenção convergiu para a entrada da catedral, onde havia um grupo de pessoas se protegendo da chuva. Os convidados trocaram sorrisos nervosos retribuídos pelo constrangimento dos abrigados.
-Venham, não se acanhem- começou o homem por trás da tribuna- Quanto maior a platéia, melhor é o discurso... Ou pelo menos era nisso que este defunto aqui- Ele deu uma rápida olhadela em direção ao caixão. Um movimento breve e sutil como que para assegurar que Marcus estivesse realmente morto- Costumava acreditar... Ah, e se for por falta de familiaridade com o falecido... Bem, posso dizer com certeza que ninguém aqui realmente o conheceu. Ele foi... Como é mesmo a expressão?... “mais um ninguém no meio de milhares de ninguéns” ou alguma coisa nesse sentido.
Os abrigados começaram a adentrar a igreja. Todos tímidos e a passos meio constrangidos.
-Ora, não se preocupem. Para começar, sou Anthony, ou apenas Tony, para aqueles que gostam de nomes pequenos. E, apesar de me considerar um dos amigos mais íntimos de Marcus Devian e em seu testamento ele ter deixado explícito o desejo de minha oratória em seu funeral, meu discurso não será sobre ele...
Olhares discretamente incrédulos foram trocados e o burburinho se formou.
-Deuses- Bradou- Deixem-me terminar!
Silêncio... O homem de branco conseguiu a atenção completa da platéia fúnebre.
-Não discutirei quem foi Marcus Devian, ou seu papel fundamental em muitos dos recentes eventos, ou mesmo qual seu histórico, ou o motivo de tantos figurões nesse recinto. Não. E não o farei pelo mais simples motivo: Desejo honrar a memória de meu querido amigo. E sei que ele não gostaria que seus assuntos pessoais fosse esmiuçados diante de uma multidão como um professor de biologia dissecando um sapo para uma turma de alunos, não. Além do mais esse conhecimento seria inútil para nós, apenas mais bagagem inútil em meio ao sótão caótico que é nossa mente. Portanto, meus caros, o que direi aqui, acredito eu, será bem mais proveitoso e familiar a todos aqui presentes.
Tony sentiu a expectativa do público. Todos os olhares atentos a suas próximas palavras. Toda a atenção convergindo para seu ser. Era assim que ele gostava e era assim que tinha que ser.
Por que Anthony os tinha agora na palma de suas mãos.
- E começarei pelo tema, pelo início, que na verdade é o fim. O fim que vem para todos. Todos os caminhos levam para o meu tema, meu discurso começa aqui e com esta única palavra se inicia e será com ela que o encerrarei.
“Sim, falarei da Morte.”